Nelson/Laine, para matar a saudade
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de janeiro de 1985
Se de um lado há que se Ter os ouvidos atentos para os novos sons – embora isto, muitas vezes, represente um risco aos tímpanos mais delicados, há visto a voltagem do elétrico som desta década – há, para compensar, as reedições dos cantores de vozes potentes, que conseguem manter um público fiel entre tantas exigências de renovação musical.
Dois exemplos – um brasileiro, outro americano – que merecem atenção: Nelson Gonçalves e Frankie Laine. Nada em comum entre os dois – a não ser que ambos já passaram da fronteira dos 60 anos mas ainda possuem vozes potentes e, o que é importante, afinadas.
Nelson Gonçalves (Antonio Gonçalves Sobral), gaúcho de Santana do Livramento, 65 anos a serem completados no próximo dia 21 de junho, 46 de vida musical, mais de mil músicas gravadas e que mantém um recorde: é o cantor com maior número de discos em catálogo. Seu público é tão constante que a RCA – gravadora à qual está ligado desde sua estréia em 1941 (um 78 rpm, com "Sinto-me bem" de Ataulfo Alves e "Seu Pudesse Um Dia", de Osvaldo França/ Orlando Monelli) – há dois anos reimpressou 40 de seus mais populares elepês, aos quais acrescidos aos que tem feito nestes últimos anos, o fazem detentor de uma discografia em catálogo (ou seja, vendida normalmente nas lojas) imensa. Agora, enquanto sai seu novo elepê ("Eles & Elas", 1984), produzido com esmero e bom gosto, a RCA cedeu à Sigla/Som Livre , os direitos para uma nova seleção de "Tangos Inesquecíveis". A exemplo das duas outras montagens anteriores – e mais a força da promoção via televisão – este disco-marketing representará alguns milhões a mais em direitos autorais. Afinal, Nelson é um dos intérpretes brasileiros que mais popularizou o tanto, em versões dos clássicos autores argentinos ou então mesmo de brasileiros que se atraíram pelo gênero como David Nasser/ Herivelto Martins ( "Carlos Gardel"; "Hoje Quem Paga Sou Eu", "Vermelho 27", "Amarga Confissão", "O Último Tanto") que ao lado de standards como "Mano a Mano" (Gardel/Razzano/Flores), "Sem Palavras" (Disc-polos/Moraes), "A Meia Luz" (Donato/Lenzi), "Meu Buenos Aires Querido" (Gardel/Pera) e "O Dia Que Me Queiras" (Gardel/Pera) estão neste disco de público certo.
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Foi cantando baladas de westerns clássicos como "A Árvore dos Enforcados", ("The Hanging Tree", 1959), "Johnny Guitar" (1954) e, especialmente, "Gunfight At OK Cooral" (1957) que o ítalo-americano Franke Laine (Franc Paul Lo Veccio, Chicago, Illinois, 30/3/1913) se tornou um nome popular no Brasil nos anos 50.Voz poderosa e afinadíssima, Frankie teve períodos de grande glória, quando esteve entre os cantores que mais vendiam discos.
Com sua regravação de "That's My Desire", foi um dos cantores de maior prestígio nos EUA em 1947 e apesar de certos críticos o marginalizarem, ele era admirado por alguns jazzistas, como Buck Clayton (pistonista, compositor, nascido em Kansas, 1911) que escreveu algumas músicas para ele – e juntos fizeram um elepê" ( "Jazz Spectacular", Colúmbia, 1956).
Há anos sem Ter um álbum lançado no Brasil, Frankie Laine pode ser ouvido agora em 16 de seus maiores sucessos graças à boa idéia do incansável Jonas Silva em editar um disco com este grande cantor, lançado pela Imagem há algumas semanas.
Ex-cantor e compositor, um dos mais bem informados record-men. Jonas tem procurado editar pela sua pequena mas atuante gravadora as grandes vozes do passado que, infelizmente, raramente se encontra mesmo nas lojas que trabalham com discos importados. Aliás, Jonas está tentando conseguir os direitos dos discos de Al Jolson (1886-1950), para que uma nova geração possa conhecer sua histórica voz.
Neste "16 Grandes Sucessos" de Laine temos desde o seu maior êxito – "Jezebel" de Shankin/Junt (que a falecida Leny Eversong gravou no Brasil) até composições de Dizzy Gillespie, como "That Lucky Old Sun", passando por "On The Sunny Side Of The Street", "Mr. Boljangles", "That's My Desire", "Proud Mary"(esta uma canção relativamente recente, de John Fogerty), "Mule Train" (do mestre do contry, Hank Willians), "Talk About the Good Times", "Put Your Hand In the Hand" e "Pó Folks" – entre outras.
Realmente, ouvir os tangos na voz de Nelson Gonçalves ou as baladas contry com Frankie Laine não é só nostalgia. É voltar aos bons tempos dos cantores de grandes vozes.
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