A Bossa Nova dos Ingleses
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de junho de 1985
Uma das gratas revelações musicais, em termos internacionais, neste ano foi o duo inglês The Style Council. Chamado de "bossanovistas" pelo seu estilo harmonioso, suave e balançante, Paul Weller (guitarra) e Mick Talbot (pianos), ambos vocalistas, trouxeram suaves composições no LP "Café Bleu" e agora reforçam elogios recebidos neste "Shout!" (Polydor/ - Polygram), com apenas três temas, num disco-mix de quatro faixas: "Shout To The Top" em versões vocal e instrumental; The Piccadilly Trail" e Ghosts Of Dachuu". Não precisam mais do que isto para mostrarem uma extraordinária musicalidade e, especialmente, suavidade. Weller, embora só agora chegando ao Brasil, é veterano: por 7 anos liderou o grupo JAM, abandonando depois suas origens "Mod" (os "mods"- são uma das muitas "tribos" que integram a imensa colcha de retalhos de tendências musicais da Inglaterra). O Style Council foi formado com a preocupação de mostrar um trabalho que não repetisse uma série de fórmulas já desgastadas por vários grupos ingleses. Assim, aceitaram a influência do jazz e da Bossa Nova. Dizem até que Weller é um fã de Roberto Carlos. Talbot, vindo do grupo irlandês Dexy's Midnight Runners, integrou-se à proposta do Council - e o resultado é positivo. Basta ouví-los para confirmar.
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Ex-discípulos de Walter Smetak (1913-1984), compositor músico e, sobretudo, inventor de instrumentos, Marco Antonio Guimarães fez do Uakti uma "oficina instrumental" de altíssima voltagem. "Descobertos" por Milton Nascimento - que os convocou para shows e gravações, a Uakti tem hoje um público específico, que aprecia a música que produzem em instrumentos de sopro e percussão, por eles próprios desenvolvidos. Um exemplo da energia e voltagem de Marco Antonio Guimarães e seus três colegas - Paulo Sérgio dos Santos, Artur Andrés Ribeiro e Décio de Souza Ramos está em "Tudo e Todas as Coisas" (Barclay), segundo LP do Uakti - infelizmente lançado sem maior promoção há vários meses. Com exceção de "Pêndulo Celeste", composição de Artur Ribeiro dedicado à próxima aparição do Cometa Halley, todas as músicas são de Guimarães. Numa delas - "A Grande Virgem" [-] homenagem a Smetak, participação especial de Rufo Herrera, também co-autor.
A música do Uakti é de uma personalidade ímpar. Impossível descrevê-la. É um som experimental, novo e marcante. Daqueles que não se escuta no rádio mas que se ouvirá, por certo, por muito tempo. Ao contrário das bobagens que as FMs da vida impingem diariamente aos ouvintes.
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Carlos Felipe, disc-review do "Estado de Minas", conta que Márcio Galvão começou no grupo Matizes, no final dos anos 70. Um grupo vigoroso que, diz Felipe, acabou separando-se. Felizmente Márcio partiu para um elepê-solo, distribuição da Bemol, atuante gravadora de Belo Horizonte. Quatro composições só dele: "Ponta Nova - Ponto Final["], "Cáraca", "Rural" e "Fruta de Leite". Outras em diferentes parcerias, identificado pela linguagem pura e espontânea, "uma verdadeira viagem que Márcio realiza pelos universos de Minas, da alma e da vida", como diz o jornalista mineiro. Suavidade, bons arranjos instrumentais e a participação vocal de vários artistas dão uma qualidade especial a este disco suave e tocante. Um bom compositor e intérprete, num lançamento de nível que, infelizmente, não chega às lojas. A solução está em comprar pelo reembolso postal, diretamente com a Bemol.
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