20 anos depois, sonho de Woodstock é revisitado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de agosto de 1989
Não foi o primeiro e nem o último - mas foi o maior: Woodstock. Nunca mais se repetiu(irá) um festival como aquele que, entre os dias 15 a 18 de agosto de 1969, numa fazenda de 600 acres próxima de Bethel (Casa de Deus em hebraico), no Estado de Nova Iorque, a 80 km da própria Woodstock, reuniu mais de 500 mil jovens em "3 Days of Peace & Music".
A previsão era, no máximo, de 150 mil pessoas e imagine-se os problemas de (falta) de infra-estrutura que aconteceram! Mas tudo compensou pelo significado maior deste mega festival pop, que inspiraria dezenas de outros - inclusive no Brasil (Ouro Preto, Águas Claras, etc.), na tentativa de reunir jovens, rock & mensagens pacifistas - embaladas com sex and drogs.
Os 20 anos de Woodstock não tiveram o replay que poderia ser uma tentativa de reeditar aquele momento. Melhor assim! Certos momentos da vida não tem segundo tempo. A Warner, astutamente, adquiriu na época, dos jovens Joel Rosenmann e John Roberts, então com 24 e 26 anos, respectivamente, os direitos de gravação e imagens do festival. Pagou US$ 1 milhão e ganhou US$ 80 milhões.
Agora, quando Rosenmann e Roberts pensaram em reeditar o festival (inclusive com um patrocínio da Pepsi em US$ 3,5 milhões), através da Woodstock Festival (que detém o nome e o logotipo com a pomba sobre a guitarra), a Warner vetou o projeto. Hoje, mais do que nunca, o rock é um bussiness. Um big, big, big bussiness...
E a própria Warner cuidou de reeditar os frutos do festival, lançando em CD e um álbum com três dos cinco elepês gravados ao vivo naquele histórico acontecimento e mais o documentário de 184 minutos, que custou US$ 500 mil e recebeu o Oscar 1970 em sua categoria. O diretor foi Michael Waldelight, com Thelma Schoonmaker e Martin Scorcese (hoje um diretor famoso) como assistentes. Reeditado agora em vídeo (dois volumes, já à disposição nas locadoras), remixado em sua trilha sonora (como os discos), mostra imagens inesquecíveis 20 por 20 câmaras que funcionam durante os três dias (e noites), produzindo milhares de pés dos quais foram editadas as imagens para a duração de três horas e quatro minutos.
Paralelamente aos discos e ao vídeo, outros produtos culturais também lembram os 20 anos de Woodstock. Em Londres, foi lançado há um mês "Woodstock - The Oral History" (editora Sigwick & Jackson, 361 páginas, 9,9 libras) no qual o autor Joel Maskower limitou-se a transcrever depoimentos de muitos dos que fizeram o festival - empresários, artistas, seguranças e mesmo público.
Para os que tem 40 anos (ou mais), a reedição audio-visual de Woodstock (e a WEA deve lançar em breve o álbum duplo com os outros discos que complementam a sua trilha) tem, naturalmente, um sabor de nostalgia - pois Woodstock está impregnado do final de uma das mais tormentosas décadas deste século - a escalada da guerra do Vietnã, assassinato dos irmãos John (62) e Robert Kennedy (68), bem como do pastor Martin Luther King e outros fatos brutais - inclusive o assassinato da atriz Sharon Tate pela família de Charles Manson.
Musicalmente, o festival reuniu os principais nomes do rock na época - apesar da ausência dos Rolling Stones (não teriam sido convidados devido a imagem constestadora que tinham na época) e Bob Dylan, que já preferia o isolamento de outsider.
Na fazenda de Max Yasgur - que, comovido com o desespero dos organizadores Rosenmann e John Roberts que tiveram vetada a opção inicial de Walkill, para realizar o evento - cedeu um pasto no condado de Sullivan (a troco de alguns milhares de dólares) para aquela "reunião de pobres cabeludos que queriam apenas se divertir e ouvir música".
Ao ar livre - sem se importar com a chuva que transformou o local num lamaçal (e agravado com problemas de engarrafamento de trânsito, falta de WCs suficientes, sérios problemas de overdoses e muita gente acidentada) não impediram que, musicalmente, os três dias-noites fossem inundados por um som ininterrupto, com apresentações históricas. O Jefferson Airplane e seu "Volunteers"; a candura ácida e política de Joan Baez cantando "Joe Hill"; o Crosby, Stills, Nash & Young embalando o sonho americano ao som da "Suite: Judy Elue Eyes"; o frio na espinha com "We're not Gonna Take It", da ópera-rock "Tommy", urrada pelo The Who; a explosão de Joe Cocker cantando "With a Little Help From My Friend" (Lennon / McCartney); o "Soul Sacrifice", com Santana e banda e, finalmente, outros como John Sebastian, Richie Neavens, o Ten Years After, Sly & The Family Stone, Country Joe & The Fish, a presença "apocalíptica e divina" de Jimmi Hendrix. Com "Purple Haze" e o grito vietnamita na interpretação do hino americano, que começou a tocar às quatro e meia da manhã de 18 de agosto, em sua "Render Strotocaster" - no momento mais marcante daquilo que ficou conhecido como "Nação Woodstock" - um momento de rompimento e reaproximações não só da música rock americana, mas também em termos de comportamento de uma geração - hoje envelhecida, distante daqueles momentos - inesquecíveis dentro de sua época.
LEGENDA FOTO 1 - A imagem que ficou do festival de paz, amor e rock: Woodstock 69, nunca mais!
LEGENDA FOTO 2 - Jimmi Hendrix, momento maior do encerramento de Woodstock, morreria em 1970, de overdose.
LEGENDA FOTO 3 - Sly Stone, em 1969, nos momentos gloriosos: agora revendo-se em vídeo no documentário de Woodstock.
Enviar novo comentário