Login do usuário

Aramis

Almino, um diplomata que chega ao romance

Se a época não fosse de festas no âmbito familiar e pouco apropriada para novos lançamentos culturais, o diplomata João Almimo poderia aproveitar a sua passagem por Curitiba, neste Natal - acompanhando sua esposa, a curitibana Bia Wouk - para fazer uma noite de autógrafos de "Idéias para onde passar o fim do mundo", seu primeiro romance. Afinal, apoio não lhe faltaria: o jornalista Aroldo Murá, diretor do "Jornal da Indústria & Comércio" é um de seus maiores amigos e mobilizaria, facilmente, os veículos de divulgação para fazer um grande acontecimento. A idéia, talvez fique para o próximo ano, pois só há algumas semanas é que a Brasiliense colocou nas livrarias este livro de João Almino, ensaísta, diplomata e respeitado professor de Ciência Política da Universidade Nacional de Brasília. Com "Idéias para onde passar o fim do mundo", João Almino ingressa na ficção e como em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, o narrador da história é um homem morto, um fantasma. Mas, ao contrário da Brás Cubas, esse fantasma não conta a própria história. Com uma sutil diferença, ele incorpora a sua vida na vida e nas realidades dos seus personagens. Assim, mergulha no universo de pessoas que se consomem interiormente com seus problemas íntimos e amorosos, daquelas que depositam suas esperanças no mundo exterior (na viagem à capital do país, Brasília, ou no regresso a suas raízes), e até das que vivem num tempo cósmico e querem se comunicar com seres dos discos voadores. A história se desenvolve num tempo indefinido, misturando realidade e fantasia. Uma realidade que usa ingredientes do passado e ao mesmo tempo contém características utópicas, às vezes desejáveis e, outras vezes, terrivelmente assustadoras. xxx João Almino iniciou este romance em Brasília, em 1970. Depois, em Paris onde conheceu a curitibana Bia Wouk, hoje sua esposa - continuou a escrevê-lo. Estiveram em Beirute (1980-82) e na cidade do México (1982-85), voltando a Brasília, no ano passado, onde concluiu finalmente o romance. Lêdo Ivo, lendo os originais, afiançou: "Seu romance é um livro divertido, malicioso, criativo, cheio de bossas formas e de juventude intelectual. Enfim, um romance contemporâneo". Já o crítico Walnice Nogueira Galvão foi sintético mas generoso: - O deslizante jogo de engodos, que esta narrativa empreende, enfeitiça e leva o leitor pelo nariz. xxx Outro diplomata, este não de carreira mas que, politicamente, foi, há alguns anos, estrela maior na alta cúpula americana, Zbgniew Brzezinski (nem um parentesco com o pintor João Osório, de Curitiba) é o autor de um livro que é atual, mas que ficou um pouco superado desde que, há três semanas, Reagan e Gorbachev assinaram o acordo que inicia o desarmamento nuclear: "EUA X URSS, O Grande Desafio" (tradução de Octávio Bernardes, editorial Nórdica, 296 páginas, Cz$ 600,00). Brzezinski, que foi o poderoso assessor do presidente Jimmy Carter para assuntos de segurança nacional, acha que as relações americano-soviéticas transformaram-se num jogo político sem fim, no qual cada uma das partes atua segundo suas próprias regras, faz a contagem de pontos à sua maneira, não havendo chance alguma de vitória tradicional para qualquer um dos lados. xxx E já que hoje registramos alguns títulos importantes, acrescente-se o fato de "A Ilha", do jornalista Fernando Moraes (editora Nova Ômega, 176 páginas) chegar a 27ª primeira edição em onze anos. A primeira edição, lançada em agosto de 1976, foi esgotada em apenas 19 dias. Atinge agora 200 mil exemplares e, pelo visto, o interesse continua. Para o editor Fernando Mangarielo, quando "A Ilha" foi lançado representou uma grande coragem de Fernando de Moraes: vivia-se sob o AI-5 e na época o escritor e cineasta Renato Tapajós havia sido preso por ter escrito "Em Câmara Lenta". Depois de "A Ilha - um repórter brasileiro no país de Fidel Castro", vários outros livros de brasileiros que visitaram Cuba (hoje um roteiro turístico até de dondocas e novos ricos) - foram publicados, mas, pelo visto "A Ilha" continua a ser o favorito. Um sucesso maior do que "Olga", o outro best-seller de Fernando Morais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/12/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br