Depois da música, romance de Lisboa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de novembro de 1991
Entre as revelações da música urbana, uma das mais significativas nos anos 80 foi a de Nei Lisboa, gaúcho de Caxias do Sul, próximo aos 32 anos - a serem completados em 18 de janeiro. Quando gravou seu primeiro disco, a produção independente "Pra Viajar no Cosmos não Precisa Gasolina" (1983), já havia acumulado boas experiências: músico desde o final da década de 70, em 1975, viajou aos EUA e morou numa cidadezinha do Interior da Califórnia, ao lado de um bar "que lembra" o "Bagdá Café" do filme de Percy Adlon. A solidão o estimulou a pegar o violão e ouvindo Elton John e os Beatles, apaixonar-se pelos blues - que reciclaria mais tarde, em sua obra - com pitadas de "country" e "bluegrass" - mas sempre de muita brasilidade - a partir de seu retorno. Com Augusto Licks (Engenheiros do Hawai), fez os primeiros shows e desenvolveu uma parceria que desembocaria em "Deu pra Ti Anos 70", que virou filme graças a outros gaúchos talentosos, Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti. Vieram novos discos - "Noves Fora" (1984), "Carecas da Jamaica" (1987) e "Heim!" (1988), estes já pela EMI/Odeon.
Agora, Nei revela uma nova faceta de seu talento: a de escritor, estreando com um romance policial - "Um Morto Pula a Janela" (192 páginas, Cr$ 4.500.000,00), lançado por uma editora, Artes & Ofícios de Porto Alegre, mas com conexões paulistas e boa distribuição nacional - o que o levará a participar, com shows e tarde de autógrafos, no próximo Encontro Nacional de Escritores, em Brasília. Na opinião de Luís Fernando Veríssimo, Nei estréia com um "livro diferente e inventivo como a sua música e ele, que brincava com a linguagem na música, nos intrigando e fazendo dar risadas, mostra a segurança de um velho marinheiro, denso e engenhoso, como um veterano com sal na barba".
A Artes & Ofícios está lançando outros livros - inclusive o novo romance do jornalista Manoel Carlos Karam, ex "O Estado", ex "TV Iguaçu", agora publicitário, com o título de "O Impostor no Baile de Máscaras". De Luís Fernando Veríssimo e Joaquim Fonseca, já está nas livrarias "Traçando New York" - e merecem próximo registro - o do jornalista Juremir Machado da Silva, da "Zero Hora", um ensaio antropológico sobre a noite gaúcha, "A Miséria do Cotidiano". Já Augusto Massi organizou para esta nova editora a antologia "Artes e Ofícios da Poesia".
Enviar novo comentário