O romance sempre forte de Fonseca
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de abril de 1986
O Concurso Nacional de Contos, que Cândido Manoel Martins de Oliveira idealizou em seus tempos de superintendente da Fundepar - e que graças ao apoio do então governador Paulo Pimentel fez com que o Paraná tivesse uma projeção nacional na área da literatura (numa época em que não precisávamos da hoje supérflua e onerosa/ineficiente Secretaria da Cultura) revelou nacionalmente muitos contistas. Escritores que já tinham trabalhos publicados mas ainda não eram conhecidos do grande público. Um deles foi Rubem Fonseca, que dos contos premiados no Concurso da Fundepar há 20 anos passados, passaria depois a romances notáveis, como "Feliz Ano Novo" (proibido durante anos pela Censura), "O Caso Morel", "O Cobrador" e "A Grande Arte" - com os quais recebeu os prêmios Goethe e Jabuti.
Considerado hoje um dos mais importantes escritores brasileiros, Rubem Fonseca teve lançado há pouco, pela Francisco Alves, um novo romance: "Bufo & Spallanzani". Nas 340 páginas deste novo livro, Fonseca diverte e se diverte com alguns de seus temas mais caros: o sexo, a violência, a linguagem essencialmente corrosiva, sem contar a narrativa em que o suspense prende a atenção do início ao fim. Para o crítico Ricardo Soares, do "Jornal da Tarde", "ele brinca com a cabeça do leitor nos dando a impressão de que em literatura o limite entre o verossímil e o ridículo é muito estreito". "Bufo & Spallanzani", no entanto, é muito mais. É também uma história de amor vivida por um homem típico do nosso tempo - reprimido e angustiado. Voltado para o sexo compulsivo e neurótico ele vive a frustração amorosa. O próprio autor parece justificar a opção numa conversa com o também contista João Antônio: "O amor romântico não existe mais. Hoje ele surge e vai apodrecendo. A relação é superficial. O amor é um troço amplo. Ama-se o corpo da pessoa amada, a voz, as palavras, o cheiro, tudo, tudo e as pessoas estão chegando lá".
LEGENDA FOTO - Fonseca, enfatizando o sexo e a violência em seus contos.
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