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Aramis

Aqueles jovens futuristas com seus estranhos poemas

Formado em Agronomia, Corrêa Júnior jamais exerceu a profissão. Preferiu sempre as incertas financeiramente - mas gratificantes culturalmente - atividades artísticas e jornalísticas. Criou até uma frase que, passados mais de 50 anos, continua atual: - Todo profissional tem o seu cheiro particular: o mecânico cheira a graxa, o padeiro a farinha e trigo. Jornalista cheira a falta de dinheiro a quilômetros de distância. Corrêa Júnior deixou cinco livros, hoje raridades preciosas: "Enxu de Mandaçaias" (1929), "A Alma Encantada da Meia-Noite" (1933) e "Olho d'Água" (1939). Artigos avulsos, crônicas e poesias - nas quais quase sempre mostrava seu lado espirituoso, criativo e bem humorado, foram carinhosamente reunidos por sua viúva, dona Ema, num único exemplar encadernado. Uma aspecto que Valério Hoerner Jr., estudioso da sua obra, vem lembrando em artigos é a participação de Corrêa Júnior num movimento literário desenvolvido em Curitiba logo após a Semana de Arte Moderna, em São Paulo: o Futurismo. Castelo Braz, Brandão Pontes, Brasil Pinheiro Machado, De Sá Barreto, Odilon Negrão, Nestor Ericksen, Walfrido Piloto e Aderbal Stresser atuavam nos jornais "O Dia" e "Diário da Tarde", ali encontrado-se com Corrêa Júnior, Alceu Chichorro, Carlos Bonhome e Ernani Guarita Cartaxo. Todos jovens e que formavam grupos, mais ou menos radicais conforme as musas eleitas. Um dia, De Sá Barreto confessou: - "O bárbaro furor da sociedade iconoclasta e irreverente não deixará pedra sobre pedra". Surgiam então, atrás de pseudônimos curiosos, autores que assustavam a pachorrenta Curitiba dos anos 20: Pierra Choux Fleur era Corrêa Júnior. Oto di la Nava era Walfrido Piloto, hoje aos 90 anos, firme e rijo, presidente do Centro de Letras do Paraná. Charles Xuxu era Chichorro. Paulo Bravo escondia a Laertes Munhoz. Em 1926, no clube Curitibano - então um efervescente centro de idéias e cultura - Jurandir Manfredini lançou o chamado Manifesto Modernista, apoiado pela imprensa. A imprensa eram os próprios signatários do documento. Como relata Valerio Hoerner, "e com o modernismo aberto, tendo Manfredini visto as coisas mal paradas devidas às manifestações reacionárias, o sentido de provocação intelectual acelerou-se, permitindo campo para que se extravasassem os sentimentos dentro daquela nova forma. E se De Sá Barreto em 1923 já prognosticava que "há um tom vago de coisas infinitas" provocando o comentário de Laertes de Munhoz de que aquela lapidante frase seria uma "superintuição futurista", aquele grupo de jovens avançados tornavam-se FUTURISTAS. Laertes Munhoz, então assinando textos como Paulo Bravo, colhia elementos para a "História do Futurismo no Paraná" e confessava através de espirituosa crônica, dizendo que (Alceo) Chichorro preparava um livro chamado "O Mataborrão da Vida", enquanto Corrêa Júnior teria "A Alma Pitoresca dos Insetos" e Valfrido Piloto já teria pronto dois volumes: "Do Aeroplano de Minha Exaltação" e "Tripanozomas Lapislazulis da Criança", onde sua trêfega imaginação cantava: "Enfeitadas ousadias gasosas de vácuo/pestanejar covarde e louco/Ventania/de bois capinando abóboras..." e por aí afora. Corrêa Júnior atacava com "Lábios.../Os meus lábios minha amante/Os teus lábios os meus lábios.../o nosso beijo!). este poemeto modernista veio, em 1929, a fazer parte de seu primeiro livro, o "Enxu de Mandaçaias". Mas é necessário lembrar que nenhum dos livros anunciados chegou a entrar no prelo. Era tudo provocação. Mas, como diz Valerio Hoerner, o importante de tudo, e que passada a época, integraram-se os vanguardistas com os passadistas, para conviver longa jornada sob o rótulo já assentado do Modernismo. O Futurismo fora a brecha que encontraram aqueles jovens rebeldes intelectuais dos anos 20 para se fazerem ouvir. LEGENDA FOTO - Dona Ema Riva Corrêa, primeira radioatriz do Paraná - e pioneira do rádio brasileiro, numa caricatura de J. Britto em dezembro de 1936.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/02/1990

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