As artes de Vera e Ivald
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de abril de 1977
Quem comparecer hoje à noite no Museu Guido Viaro (Rua São Francisco) estará não só conhecendo o trabalho de dois jovens gravuristas - Vera Salamanca e Ivald Granato, mas também tendo oportunidade de conversar com artistas plásticos integrantes, hoje, de um crescente movimento de vanguarda, em São Paulo. Pois Vera, Ivald e mais o editor Ohno - que, por compromissos profissionais não pode acompanhá-los a Curitiba - foram os organizadores da I Feira de Poesia-Arte (9 a 11 de novembro de 1976), realizado no Teatro Municipal de São Paulo, incluindo lançamentos de livros de arte, experiências de arte conceitual, música etc. A polêmica foi grande e o movimento, para alguns, teve um significado tão importante quanto a Semana da Arte Moderna, de 1922. Só que, como aquele movimento na época não foi entendido, também a experiência do ano passado ainda não teve a sua devida colocação crítico-artística.
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Ivald Granato, 27 anos, 14 de pintura, gravurista, pintor, desenhista, classifica-se como "um artista pluralista". Suas propostas de vanguarda, que desenvolve desde 1965, já tiveram repercussão na Europa, especialmente em Amsterdã, onde já expôs várias vezes e na qual algumas de suas mais audaciosas experiências tiveram excelente acolhida. Na mostra de hoje à noite, Ivald Granato estará exibindo 15 litografias, mas o seu maior interesse seria desenvolver na cidade, em outra ocasião uma experiência de arte conceitual - ou pluralista, como prefere classificá-la.
Já Vera Salamanca é uma artista jovem, que após residir alguns anos em Curitiba e no Rio de Janeiro, acabou fixando-se em São Paulo. Desenvolvendo uma gravura forte, pesada e, principalmente, muito pessoal, integrou-se ao trabalho de Granato e do editor Massao Ohno, obtendo, em poucos meses, uma projeção difícil de acontecer numa megalópolis de 8 milhões de habitantes como São Paulo - onde existem milhares de artistas plásticos. As gravuras dedas nas melhores galerias, seu trabalho passou a interessar aos críticos e colecionadores e revistas nacionais - como "Vogue" e "Isto É", já passaram a registrar o seu aparecimento. Moça de múltiplas idéias, temperamento fascinante, trabalha atualmente num livro de arte, com poemas de sua amiga Alga Savary (Sra. Jaguar).
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Massao Ohno, um nipo-brasileiro que aos 42 anos de idade soma imensas experiências no cinema, na vida editorial e mesmo nas artes plásticas, tem publicado centenas de livros importantes - em termos de texto e forma. Infelizmente, devido a precariedade do sistema editorial brasileiro e principalmente, da falta de visão dos nossos livreiros, as obras que edita nunca chegam ao Paraná.
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No Museu Guido Viaro, a partir de hoje, as gravuras de Vera Salamanca e Ivald Granato estarão, por certo, merecendo muitos elogios e reservas - já que são artistas de mercado seguro. Mas tão fascinante quanto os seus trabalhos, são suas idéias - em termos de uma arte contemporânea, viva e polêmica. Vale a pena conhecê-las!
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