Artistas contra deputado e a falta que Flávio faz
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de abril de 1986
O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos no Estado do Paraná voltou a reuniu-se a partir de ontem à noite, em assembléia geral. Motivo: apreciar e responder o pronunciamento que o deputado Tadeu Lúcio Machado fez no dia 10 de abril, na Assembléia, atacando a classe artística. Na (frustrada) tentativa de defender a Secretaria da Cultura e Esportes, o deputado peemedebista disse uma série de inverdades que revoltaram ainda mais a categoria artística do Paraná. Agora, em assembléia geral, os artistas e técnicos devem aprovar novo documentos, reiterando as críticas ao Governo José Richa, pela desatenção na área cultural e, particularmente, desdizendo aquilo que o deputado Lúcio Machado tentou defender.
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Enquanto a classe artística do Paraná continua indignada com a desatenção do governo José Richa face às colocações feitas em seus manifestos - e que transmitem não insatisfações ou críticas de pessoas particularmente descrentes com a atuação no Estado na área cultural - mas de toda uma categoria profissional - também os estudantes do Curso Superior de Artes Cênicas estão preocupados com a falta de quem oriente as aulas de Interpretação.
Conforme aqui noticiamos há uma semana, o ator e professor Flávio São Thiago, contratado para aquela disciplina, desistiu de continuar em Curitiba, já que o salário pago pela Fundação Teatro Guaíra é insuficiente para cobrir suas despesas mínimas. Havia vindo com a promessa de que teria uma segunda atividade, capaz de lhe render a complementação necessária. Entretanto, como em tantos outros casos, houve só a promessa e, inclusive ao procurar a Fundação Cultural de Curitiba, a quem havia encaminhado um projeto de trabalho, não foi sequer recebido pelo presidente Carlos Frederico Marés de Souza.
Premiado no XIV Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, na semana passada, por sua emotiva interpretação do advogado Hermínio, no filme "Fulaninha", de David Neves, Flávio São Thiago decidiu retornar em definitivo ao Rio de Janeiro, onde "ao menos passo dificuldades com maior dignidade". Flávio, dizia-nos há 10 dias, em Gramado, lamentar interromper um trabalho que o vinha entusiasmando, com mais de 60 jovens do 2º ano do curso de artes cênicas. "Entretanto, não há condições de viver com um salário tão baixo."
O presidente do Diretório Acadêmico de Artes Cênicas, Abílio Ramos, assessorado por duas alunas do curso - as belas Simone Dutra e Silvana Santos, está tentando, desde a semana passada, um contato pessoal com Flávio São Thiago. Reconhecendo os méritos do ator e professor - a quem inclusive, desejam homenagear por sua premiação - mas entendendo suas reclamações de ordem salarial, os estudantes estão dispostos a apoiá-lo.
Afinal, faz falta gente de competência no curso de artes cênicas e os próprios coordenadores, Carmen Hoffman e José Carlos Proença, também preocupam-se com a saída de Flávio São Thiago. Espera-se, entretanto, que ele venha esta semana a Curitiba - ao menos para oficializar seu afastamento do Curso, que é mantido em convênio entre a Fundação Teatro Guaíra e Universidade Católica do Paraná.
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