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Aramis

Atântico lembra os velhos mestres

A carta chegou há algumas semanas, mas por razões outras acabamos atrasando o seu registro. O médico atlântido Borba Cortes, professor catedrático de clinica médica da Universidade Federal do Paraná, um dos alunos citados no relatório que o diretor do Gymnasio Paranaense, Lisimaco Ferreira da Costa, encaminhou ao então << presidente da província >> Caetano Munhoz da Rocha, em 1923 - tema de alguns comentários nesta coluna, nos mandou simpática correspondência, comentando nossas observações. Como o professor atlântido faz observações interessantes, aqui vai a sua carta: << A sua apreciada coluna << Tablóide >> é sempre lida com prazer. Mas a publicada em O ESTADO (17/5/80), com o subtítulo << Os Bons Tempos do Paraná de 24 >> (IV) e na qual registra a minha reprovação em desenho e a aprovação em aritmética com o grau mínimo 4,2 (deixei pêlo na cerca), ao lado de tão importantes nomes da atualidade e meus colegas e contemporâneos daquela época, já tão longíqua, foi lida com deusado interesse por reviver nomes e fatos que trazem no seu bojo a sensação do transcorrer de tantos anos vividos, alguns muitos sofridos, mas sempre com a esperança de dias melhores. E eles vieram... A sua interessante pesquisa, remexendo arquivos, nos relembra velhos mestres, todos falecidos e gozados de descanso eterno pelos serviços inestimáveis prestados à Educação. Homens integros e responsáveis. Entre outros citados pelo amigo, a dureza de Álvaro Pereira Jorge, seja acrescentada Sá Nunes, o purista da lingua, a benevolência de Debastião Paraná e Arthur Loyola, a inteireza de Guilherme Buttler. As aulas de Guido Straube, ilustradas por magnífico esquema e desenhos feitos no quadro negro com giz a cores. O ensino de Lysimaco Ferreira da Costa dispensava a compra de livros, o que era bom para os alunos carentes de recursos, tal a sua maneira clara, agradável e sobretudo explicita do desenvolvimento dos temas de física. Todos professores se distinguiram e cuidavam dos seus encargos com a dedicação que dificilmente encontrar-se-a hoje. A todos eles a nossa reverência. Realmente, Pedro Macedo, professor ilustre, lusitano de boa cêpa, reprovou-me. E fez muito bem. Cumpriu sua nobre obrigação. a generosidade de Deus aquinhou-me, prodigamente, com muitos privilégios, talvez imerecidos, mas negou-me qualquer dote para o desenho. Para o desenho, a pessoa nasce com este dom maravilhoso. Naquele tempo a escola era outra. Hoje o professor para reprovar precisa ter, além da falta de conhecimento do aluno, coragem para agüentar com o que der e vier. Até para concurso universitários as bancas são organizadas pelos candidatos e compostas de amigos que lhes devem obrigações que o dinheiro não paga. É, a escola era bem diferente, muito diferente. Apesar da minha inabilidade para o desenho devo confessar: esta deficiência não prejudicou., de modo algum, minha carreira, tanto no magistério como na profissão. Para ambas nunca contei com auxilio de quem quer que seja. E relembrando Pedro Macedo, excelso na arte de juntar harmoniosamente, riscos e traços para fixar no papel a tradução exata de tudo que podemos ver, e, contando ainda com minhas mãos saudáveis e sem tremores, não arriscaria nova prova de desenho pois na certa seria reprovado mais uma vez. É com muita satisfação que lhe envio esta carta e peço que aceite os meus cumprimentos e aceite um abraço cordial de seu leitor e amigo >>.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
25/06/1980

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