Bebedouras, as novas musas do ótimo Juarez
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de outubro de 1985
Juarez Machado, 43 anos, é, com toda razão, reconhecido como um dos mais criativos artistas contemporâneos. Transpondo, hoje, as fronteiras nacionais, com exposições em galerias de Paris ou Nova Iorque, esse catarinense de Joinville, com longa quilometragem curitibana (formou-se pela Escola de Belas Artes de Curitiba e deu aqui os primeiros passos como profissional), mantém a simplicidade, o carinho e a simpatia que caracterizam os verdadeiros e grandes talentos, com a mesma humildade dos tempos simples, pois o sucesso, o dinheiro, a badalação não contam tanto quanto as amizades de juventude.
A cada ano que passa, Juarez volta a expor, na galeria das amigas Ida Axelrud e Anita Paciornik, trabalhos sempre inovadores. Buscando novas temáticas e experimentando novas técnicas, Juarez não se satisfaz com o tradicional. Seu desenho é único, suas idéias unem a poesia, a ironia a non sense extremamente atual, e ele pode obter ótimos resultados, desde os espelhos até a fotografia - uma nova técnica de arte que, a partir daquilo que iniciou como hobbie, numa das temporadas em Paris, já transformou em exposição levada a várias capitais.
xxx
Dia 11 de julho último, na Galeria Ranulpho, no Recife, Juarez inaugurou exposição de 24 telas pintadas em seu atelier de Nova Iorque. Uma série de quadros, em que consegue captar a mágica atmosfera urbana e humana daquela metrópole, na qual Juarez fez um voluntário exílio. Dali, em março de 85, Juarez escrevia ao amigo Ranulfo: "As cores desta cidade, no inverno, são de grande beleza. O sol passa longe e as sombras são longas. Pelas frestas de prédios, a luz é gentil, namora com os "neons" das vitrinas. Tento pintar essa atmosfera quase teatral. Os bares, restaurantes e lojas têm brilho próprio e harmonizam-se com a rua. O "dentro" e o "fora" jogam com as forças iguais. Pinto minhas "bebedouras". Sei que minha paleta está mudando. Pinceladas mais quentes, talvez para compensar o vento frio das avenidas. Da janela do atelier, vejo Central Park todo em branco. Gosto do silêncio que a neve provoca".
xxx
Dos quadros que Juarez pintou em Nova Iorque, alguns ficaram em galerias e outros foram até para um leilão na Sothelby's. Mas a maioria ele trouxe para o Brasil: 25 foram para a mostra de Carlos Ranulpho, no Recife; outros, com uma temática mais distante, porém igualmente originais, são as que [estarão] na galeria Ida & Anita a partir de 31 do corrente em mostra considerada, antecipadamente, um dos grandes eventos da temporada. Com toda razão.
xxx
As "Bebedouras" - temática da exposição de Juarez em Curitiba - nasceram, como idéia, há dois anos passados, quando o artista passou alguns meses na França. Deixemos que ele próprio fale a respeito:
"1983, em Strasbourg. Montei um pequeno atelier. Foi lá que vi pela primeira vez minhas "Bebedouras".
"Mulheres elegantes em silêncio, bebendo cerveja ou vinho em lugares históricos da "Petit France", com uma arquitetura cheia de tradições. Me enamorei com o tema.
"Mulheres maduras, seguras na postura, com a [pele] pálida no rosto. Desenhos ricos de vivência. Em grupos ou mesmo só, estavam sempre em sua própria companhia. Jamais solitárias.
"Sem palavras, o diálogo era completo, com o brilho do cristal dos copos, a luz âmbar das lâmpadas ou dos veludos encardidos. A harmonia visual seduzia e me embriagou mais do que o vinho. Eram senhoras (de si) quarentonas, sem compromissos com o frescor da juventude, mas orgulhosas da dignidade da idade que tinham.
"Dois anos se passaram e continuo pintando as "Bebedouras de cerveja".
Bonitas para mim, pintei-as para vocês".
Enviar novo comentário