As bolsas que Dorita deixou na Britannica
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de novembro de 1987
Durante os anos que residiu em Curitiba, Mário Nogueira Rangel deu exemplo de como o diretor de uma empresa ligada à área educativa cultural pode se integrar à comunidade. A Enciclopédia Britânica muito cresceu nos anos em que Rangel - irmão caçula, aliás, do diretor de teatro Flávio e do escritor Paulo - e, naturalmente, houve a promoção: hoje é diretor comercial de distribuidores da Hispano-América, ocupando um dos mais altos cargos desta multinacional cultural.
Mário Rangel não esquece Curitiba e ainda agora nos lembra do programa de bolsas de estudos para pós-graduação no Exterior, que há 5 anos vem ajudando a jovens talentosos estudarem em várias universidades do mundo.
Até agora foram 19 os contemplados com bolsas que a Britânnica oferece sempre em colaboração com o Rotary Clube e, atualmente, há mais quatro em fase de seleção, indicados pelos distritos do Rotary do Rio Grande do Sul , Pernambuco/Paraíba/Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Distrito Federal/Goiás/Triângulo Mineiro. Para 1988/89, possivelmente o Sul - e especialmente o Paraná - será beneficiado no programa com alguma indicação.
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O programa de Bolsas de estudos - que até agora já contemplou com US$ 279.000 os selecionados - foi criada pela Sra. Dorita Barret de Sá Putch, fotógrafa, editora, empresária, expedicionária, poliglota, idealista e cujo nome formou inclusive na Enciclopédia em sua versão no Brasil. A Enciclopédia Mirador Internacional/Barsa é a junção de Barret (mais) Sá e Mirador de Waldemiro (mais) Dorita.
Nascida nos Estados Unidos, Dorita casou-se em primeiras núpcias (1946) com o advogado e diplomata baiano Alfredo de Almeida de Sá, que então trabalhava no Consulado do Brasil em Los Angeles. Em 1946 o casal e o irmão de Dorita fundaram a Barsa Company que, em 1950, iniciava a ligação com a Encyclopaedia Britannica, inicialmente distribuindo em toda América Latina, Japão e Filipinas as obras em inglês dessa editora fundada em 1768. Em 1962 Dorita enviuvou e em 1966 casou-se com o também brasileiro Waldemiro Putch.
Empresária, Dorita percorria freqüentemente os muitos escritórios que a empresa abrira na vastíssima área de joint venture e participava de todas as decisões. Expedicionária, ainda solteira, organizou um grupo que saiu de barco do Equador, com destino a Manaus. No trajeto, todos os cientistas e peritos brancos desistiram da missão, que no final tinha somente os barqueiros índios e Dorita, que fora curada por eles de fortíssima febre. Nessa época nasceu a Dorita escritora, que deixou precioso diário dessa viagem, onde conta as alucinações que teve provocadas pela febre e pelos remédios dos índios.
A Dorita romântica, muitos anos depois, organizou uma gigantesca festa em Quito, onde recepcionou no aeroporto as delegações dos seus escritórios de diversos países sentada em cadeira de rodas, pois quebrara o pé poucos dias antes em Paris, onde fora rever as escolas onde estudou.
Além do inglês falava vários idiomas, entre os quais o português, espanhol, quichua, francês e italiano. Já bem doente, Dorita instruiu seus advogados e diretores sobre as cláusulas testamentárias para a concessão, com parte dos lucros das empresas que criou, de bolsas de estudos, que vêm sendo oferecidas tanto no Brasil como em países hispano-americanos. Faleceu em 1973. Quis ser enterrada na Bahia. Tinha se naturalizado brasileira. Não teve filhos.
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Nos três primeiros anos, do programa de bolsas de estudos (1982/84), foram beneficiados 10 brasileiros, inclusive o jornalista Nelson Hoineff, hoje correspondente no Brasil da revista "Variety", editor de jornalismo da Rede Manchete e presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro - e que, entre os dias 8 e 9 de outubro esteve em Curitiba na I Mostra do Cinema Latino-Americano. Hoineff passou o ano de 1984 nos EUA, com uma bolsa de US$ 10 mil da Britannica. Dois violinistas - Bernardo Katz e Ricardo Cyncynates - também se beneficiaram da generosidade da Britannica, que também, já possibilitou que médicos, veterinários, dentistas, professores, agrônomos, entre outros, estudassem em universidades da Alemanha, México, EUA, Inglaterra e Espanha.
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