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As bolsas que Dorita deixou na Britannica

Durante os anos que residiu em Curitiba, Mário Nogueira Rangel deu exemplo de como o diretor de uma empresa ligada à área educativa cultural pode se integrar à comunidade. A Enciclopédia Britânica muito cresceu nos anos em que Rangel - irmão caçula, aliás, do diretor de teatro Flávio e do escritor Paulo - e, naturalmente, houve a promoção: hoje é diretor comercial de distribuidores da Hispano-América, ocupando um dos mais altos cargos desta multinacional cultural. Mário Rangel não esquece Curitiba e ainda agora nos lembra do programa de bolsas de estudos para pós-graduação no Exterior, que há 5 anos vem ajudando a jovens talentosos estudarem em várias universidades do mundo. Até agora foram 19 os contemplados com bolsas que a Britânnica oferece sempre em colaboração com o Rotary Clube e, atualmente, há mais quatro em fase de seleção, indicados pelos distritos do Rotary do Rio Grande do Sul , Pernambuco/Paraíba/Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Distrito Federal/Goiás/Triângulo Mineiro. Para 1988/89, possivelmente o Sul - e especialmente o Paraná - será beneficiado no programa com alguma indicação. xxx O programa de Bolsas de estudos - que até agora já contemplou com US$ 279.000 os selecionados - foi criada pela Sra. Dorita Barret de Sá Putch, fotógrafa, editora, empresária, expedicionária, poliglota, idealista e cujo nome formou inclusive na Enciclopédia em sua versão no Brasil. A Enciclopédia Mirador Internacional/Barsa é a junção de Barret (mais) Sá e Mirador de Waldemiro (mais) Dorita. Nascida nos Estados Unidos, Dorita casou-se em primeiras núpcias (1946) com o advogado e diplomata baiano Alfredo de Almeida de Sá, que então trabalhava no Consulado do Brasil em Los Angeles. Em 1946 o casal e o irmão de Dorita fundaram a Barsa Company que, em 1950, iniciava a ligação com a Encyclopaedia Britannica, inicialmente distribuindo em toda América Latina, Japão e Filipinas as obras em inglês dessa editora fundada em 1768. Em 1962 Dorita enviuvou e em 1966 casou-se com o também brasileiro Waldemiro Putch. Empresária, Dorita percorria freqüentemente os muitos escritórios que a empresa abrira na vastíssima área de joint venture e participava de todas as decisões. Expedicionária, ainda solteira, organizou um grupo que saiu de barco do Equador, com destino a Manaus. No trajeto, todos os cientistas e peritos brancos desistiram da missão, que no final tinha somente os barqueiros índios e Dorita, que fora curada por eles de fortíssima febre. Nessa época nasceu a Dorita escritora, que deixou precioso diário dessa viagem, onde conta as alucinações que teve provocadas pela febre e pelos remédios dos índios. A Dorita romântica, muitos anos depois, organizou uma gigantesca festa em Quito, onde recepcionou no aeroporto as delegações dos seus escritórios de diversos países sentada em cadeira de rodas, pois quebrara o pé poucos dias antes em Paris, onde fora rever as escolas onde estudou. Além do inglês falava vários idiomas, entre os quais o português, espanhol, quichua, francês e italiano. Já bem doente, Dorita instruiu seus advogados e diretores sobre as cláusulas testamentárias para a concessão, com parte dos lucros das empresas que criou, de bolsas de estudos, que vêm sendo oferecidas tanto no Brasil como em países hispano-americanos. Faleceu em 1973. Quis ser enterrada na Bahia. Tinha se naturalizado brasileira. Não teve filhos. xxx Nos três primeiros anos, do programa de bolsas de estudos (1982/84), foram beneficiados 10 brasileiros, inclusive o jornalista Nelson Hoineff, hoje correspondente no Brasil da revista "Variety", editor de jornalismo da Rede Manchete e presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro - e que, entre os dias 8 e 9 de outubro esteve em Curitiba na I Mostra do Cinema Latino-Americano. Hoineff passou o ano de 1984 nos EUA, com uma bolsa de US$ 10 mil da Britannica. Dois violinistas - Bernardo Katz e Ricardo Cyncynates - também se beneficiaram da generosidade da Britannica, que também, já possibilitou que médicos, veterinários, dentistas, professores, agrônomos, entre outros, estudassem em universidades da Alemanha, México, EUA, Inglaterra e Espanha.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/11/1987

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