Karajan, davis e discos húngaros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de novembro de 1987
Herbert von Karajan, o mais famoso maestro de nossa época, gravou tantos discos com sua Berliner Philhamoniker que, por certo, passarão muitos anos para que falte material para novas edições de seus magníficos trabalhos. Às vésperas dos 80 anos, gravemente doente e praticamente sem reger, Karajan continua mais presente do que nunca em gravações. Raro o mês em que a Polygram não edita um álbum (ou vários) nos quais ele é o grande regente. Neste mês de novembro, temos uma das mais recentes gravações conduzidas por Karajan, registrada em janeiro de 1986, em Berlim - e que também foi editada, na Europa, em vídeo (além de CD, sistema pelo qual toda sua obra está sendo relançada): "Don Quixote", as variações fantásticas sobre um tema cavalheiresco, conde Richard Strauss, tendo como solista o brasileiro Antônio Meneses (violoncelo), mais Wolfram Christ (viola) e Leon Spierer (vioIino). No lado dois, "As Alegres Travessuras de Till Eulenspiegel". Nestas duas peças, Strauss (1864-1949) inspirou-se em personagens míticos - no primeiro, o Cavaleiro da Triste Figura, criação imortal de Cervantes. Já Till Eulenspiegel foi uma personagem histórica, um camponês alemão do século XI, cujas travessuras dirigidas contra a autoridade sob o disfarce da inocência de um simplório por volta de 1915.
Um álbum delicioso, com duas peças marcantes. Na capa, a reprodução de aquarela que Salvador Dali fez em 1957 inspirado no personagem de Cervantes.
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Sir Colin Davis, 60 anos, regente inglês, ex-clarinetista, depois de ter regido a Sinfônica da BBC (1967-1971) foi nomeado diretor musical do Royal Opera. Maestro convidado, Davis regeu a Orquestra Sinfônica da Rádio Baviera, registrada em uma gravação pela Philips, agora em lançamento no Brasil. Traz o registro integral da "Missa", em ré menor, de Joseph Haydn (1732-1809), destacando como solistas a soprano Barbara Hendriks, e contralto Marjana Lipovsek, e tenor Francisco Ariza o baixo Peter Meven.
Para quem aprecia obras líricas, a Imagem traz uma pequena jóia: a soprano húngara Eva Bartfai-Barta, acompanhada pela Orquestra Sinfônica Savaria, regida por Janos Petro, 50 anos, interpretando cantatas de Franz Joseph Haydn (1737-1809). Tratando-se de uma produção da gravadora estatal húngara Nungafoton, este álbum traz registros até agora inéditos no Brasil.
Assim temos as cantatas "Cena de Berenice", composta em 1795, composta quando da segunda estada de Haydn na Inglaterra e que a dedicou a cantora Brígida Banti, que a interpretou por ocasião do derradeiro concerto londrino em benefício do compositor. Já a cantata "Miseri Noi, Misere Patria", na verdade mais uma ária de concerto, com acompanhamento orquestral foi escrita por volta de 1790 mas precisaram passar-se 161 anos para que aparecesse a primeira edição impressa (razão pela qual os estudos sobre Hayden não fazem referências a esta peça). O lado dois do álbum é ocupado pela longa cantata "Ariana em Naxos", de 1789.
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