Karajan e Filarmônica de Berlim no concerto de 88
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de março de 1992
A Sony Classical continua a editar a grande herança deixada pelo mais famoso maestro deste século - Herbert von Karajan. Entendendo a importância de registrar as grandes obras com os recursos da moderna tecnologia dos anos 80. Karajan dedicou seus últimos anos (faleceria aos 81 anos, em 16 de julho de 1989) para promover regravações para a tecnologia laser - e registradas com câmaras - da Berliner Philharmoniker, orquestra da qual foi titular desde 1954, quando sucedeu a outro nome lendário, William Furtwangler (1886-1954), que ali também havia permanecido até a sua morte.
Depois do volume em que registrou o Concerto no. 2 para violino de J.S. Bach, tendo como solista a jovem e bela Anne-Sophie Mutter - cujo ingresso na Filarmônica de Berlim provocou grande crise interna por parte dos elementos mais conservadores da orquestra, a Sony editou outro vídeo precioso, com a "Symphinie Classique" de Prokofiev e o concerto no. 1 para piano de Tchaikowsky, com Yergny Kissin, como regente. Essas duas peças adquiriram uma importância histórica, pois ninguém imaginaria - nem na audiência, nem na própria orquestra - que o concerto de Ano Novo de 1988 seria a última apresentação de Karajan. Por sua energia e total concentração, ajudado por seu poder de visão e talento incomparável, Karajan marcou sua época. Uma das maiores características foi se deixar levar pela curiosidade, atenção e devoção ao público - e também pelo entusiasmo de jovens músicos - para quem ele sempre dedicou atenção e tempo, apesar de dizerem que estava sempre na mais louca correria.
Mas Karajan dificilmente deve ter ocupado o seu posto à frente da Filarmônica de Berlim com um artista tão jovem quanto o prodígio soviético Yeygeny Kissin que, na época deste "Concerto do Ano Novo de 1988" tinha apenas 17 anos. O pianista ainda nem freqüentava o Conservatório e já apresentava um dos concertos mais populares deste estilo: o "Concerto para Piano e Orquestra no. 1" de Tchaikowsky.
Além da sua responsabilidade em tocar naquele dia, Kissin tinha outro motivo para estar preocupado. Tudo naquele evento deveria funcionar como "Hollywood musical": as câmeras estavam posicionadas para filmar cada movimento de todos os integrantes da Filarmônica - principalmente os de Kissin, o protagonista de toda a história (exceto Karajan, que permaneceu a distância). Isto talvez o tenha feito se sentir um tanto quanto desconfortável. Mas só até o momento de Karajan aparecer. Aí então, tudo se acalmou imediatamente, abrindo caminho para a "Sinfonia Clássica" de Sergey Prikofiev, ser apresentada com toda a sua beleza. Tão radiante em sua serenidade, graças a transparência que o público daquele Ano Novo de 88 compeliu seu regente a bisar pelo menos o último movimento apresentado.
Enviar novo comentário