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Aramis

Na Rota de Francisco, nossos curtas conquistam o Exterior

Enquanto os próximos festivais de cinema de Gramado e Brasília estudam fórmulas alternativas de programação devido à pobreza do cinema brasileiro, em termos de longa-metragens, na área dos curtas a produção - ainda que reduzida - continua a acontecer. Reconhecidos internacionalmente em seus méritos, os nossos cineastas de curtas amargam, entretanto, um injusto ineditismo nas telas nacionais. Com o descumprimento da chamada "lei do curta" - que obrigava cada programação estrangeira ter como complemento um curta nacional - os filmes de 10 a 15 minutos que, no início dos anos 80, atingiam uma média de quase 100 produções anuais, ficaram longe do público. Mesmo circuitos culturais - mantidos com recursos públicos, como é o caso dos cinemas Groff, Ritz, Luz e Guarani, em Curitiba, deixaram de exibir os curtas metragens, embora exista uma expressiva quantidade de trabalhos inéditos. A premiação que "esta não é sua vida", de Jorge [Furtado], 32 anos, obteve no último dia 9 de fevereiro no 4o. Festival Internacional de Curtas Metragens de Clermont-Ferrand, na França, foi mais uma consagração ao talento deste cineasta gaúcho, que em 1990 já havia obtido o Urso de Prata no Festival de Berlim com "Ilha das Flores" - o filme mais premiado nos festivais brasileiros. Agora, o curta "Rota ABC", do paulista Francisco César Filho - também premiadíssimo em 1991 - foi convidado para a primeira edição do Philadelfia Festival of World Cinema (6 a 17 de maio). Melhor curta no Festival de Brasília-91, "Rota ABC" já havia sido exibido com grande repercussão no New York Film Festival, em outubro, e na National Galery of Art, em Washington, em dezembro último, e como convidado hors concours no Festival Internacional de Amiens (França, novembro de 91). xxx No Paraná, infelizmente, os poucos cineastas que conseguiram, com muitos sacrifícios, concluírem seus curtas-metragens, permanecem com seus trabalhos praticamente inéditos. "Os desertos dias", de Fernando Severo, "A Loira Fantasma" de [Fernanda] Morini, "A flor", das irmãs Wagner - os quais, juntamente com "Lápis de cor e salteado" de Palito (este concluído ainda em 1990) foram finalizados no ano passado, mas até agora não tiveram programação sequer no circuito oficial da Fucucu. Assim, estes filmes que tiveram sua produção viabilizada ainda na gestão de Renê Dotti, na Secretaria da Cultura - e graças ao empenho de se assessor Sebastião França (falecido no ano passado) - permanecem desconhecidos para o público. "A loira fantasma" concorreu no Festival de Brasília e "Os desertos dias", após competir no XIX Festival de Cinema Brasileiro de Gramado esteve em outras mostras, ganhando inclusive convites para ser levado ao Exterior. Outros curtas, realizados anteriormente, como "Ah! Essa é boa" de Paulo Friebe (88) e "Vamos juntos comer defunto", de Eloy Pires Ferreira (90) também estão inéditos comercialmente. xxx Apesar da disposição da secretária Gilda Poli, da cultura, em conseguir recursos para revitalizar o setor de cinema, valorizando prioritariamente os documentaristas, nada de concreto aconteceu até agora. Na área municipal, apesar de sugestões e projetos que chegaram ao prefeito Jaime Lerner, inexiste qualquer programa organizado que valorize a produção audiovisual. Nem mesmo a motivação dos 300 anos de Curitiba e todo o marketing internacional conseguido pela atual administração pedetista, convenceram o alcaide da importância de que um programa vigoroso na área de vídeo e documentários, voltados a Curitiba, poderia ser um suporte precioso para a própria divulgação da cidade. Apesar de dispor de um moderno equipamento de vídeo - adquirido graças a visão do ex-prefeito Roberto Requião - a Prefeitura se limitou, até hoje, a fazer o registro oficial das obras da atual administração. Assim, nenhum vídeo com maior personalidade artística, teve produção - ou apoio - na atual administração. Viajando mensalmente ao Exterior, para conferências, seminários e reuniões, o prefeito Lerner poderia, nestes seus três anos de administração, ter encontrado um suporte criativo na área de vídeos e filmes, ao mesmo tempo que realizadores locais teriam um canal de produção. Filmes como "Rota ABC", de Francisco César Filho - que anteriormente já havia realizado "Hip hop SP", "Moleque de rua" (O nobre pacto), e Márcio Ferrar, o também premiado "Wholes" de A S. Cecilio Neto, enfocam São Paulo, em seus diferentes aspectos e estão contribuindo para divulgar a cidade - mesmo que, nem sempre da forma apenas badalativa e adulatória - como acontece nas produções oficiais. Os filmes citados, junto a outros produzidos nos últimos cinco anos (*) fazem parte da retrospectiva dedicada ao curta metragem brasileiro pelo festival Internacional de Tampere, na Finlândia, iniciado quinta-feira, 4 e que se encerra hoje. xxx A projeção internacional dos curtas-metragens brasileiros prosseguirá em outros países: "Rota ABC", junto com outros 5 curtas do Brasil, será mostrado no prestigiado Festival Internacional de Locarno (Suíça), de 5 a 15 de agosto. Neste festival, estará também "Os desertos dias", ao lado de "Esta não é a sua vida", "Uma noite com Oswald" (Inácio Zatz e Ricardo dias), "Numa beira de estrada" (Marcos Gutmann e Eduardo Vidal) e "A princesa radar (Roberto Moreira). "Rota ABC" e "Hip hop SP" serão vistos também no Hamburgo no Budget Festival (4 a 8 de junho), ao lado de 11 outros curtas nacionais (**). xxx Voltado aos temas de sua cidade, Francisco César Filho atualmente finaliza seu quinta curta: "Zona Leste: alerta", abordando movimentos populares nas periferias miseráveis de São Paulo. A partir de abril, Francisco estará dirigindo, a convite do Instituto Cultural Itaú, o próximo filme da série "Panorama histórico brasileiro": um curta sobre a história e a cultura brasileiras no período JK (56/60). Chiquinho também inicia a pré-produção de um média metragem sobre jovens de subúrbios, num projeto financiado pela Rockfeller Foundation que selecionou - entre 29 projetos latino-americanos indicados - três brasileiros: Francisco, Jorge furtado e Vicente Carelli (***). xxx Quantos temas fascinantes e que poderiam resultar em importantes vídeos e documentários não existem no Paraná - e especialmente em Curitiba - se houvesse uma real disposição de estimular um movimento audiovisual sério, sem paternalismo e politicagem, mas valorizando quem tem talento? Custaria pouco, para uma Prefeitura que, só com a Fucucu, gasta mais de Cr$ 10 milhões por dia. Notas (*) Em Tampere, Finlândia, foram apresentados, além dos filmes de Francisco César Filho, também "Adeus", "Chapeleiros", "Frankestein Punk", "A garota das telas", "Mato eles?" (do paranaense Sérgio Bianchi), "Memória", "Meninos de rua", "Superoutro" e o "O vendedor". Na mostra competitiva do festival disputam "Wholes" e "Esta não é a sua vida", que já foram premiados em Gramado. (**) Para o Hamburger No Budget Festival, foram selecionados também "Arabesco", "Dov'e Meneghetti?", "Epopéia", "Folguedos no firmamento", "Força da estrada", "A garota das telas", "Moleque de rua", "A revolta dos carnudos", "Squich", "Três moedas na fonte" e "Viver a vida". (***) O projeto de Jorge furtado é "Rainforrest", um olhar satírico sobre a preocupação internacional em relação à preservação da Amazônia, já Carelli, abordará a utilização do vídeo entre as tribos Caiapós. FOTO LEGENDA: DJ Cri-Cri (esquerda) e DJ Gilberto do grupo rap Região Arisal, que aparecem em destaque no curta "Hip hop SP" de Francisco César filho, que ao lado de "Rota ABC", do mesmo realizador está sendo mostrado em várias partes do mundo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
08/03/1992

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