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Aramis

Cada vez melhor

Mesmo para quem tem assistido todos os shows que Vinícius de Moraes & Toquinho vem apresentando nos últimos anos - desde a histórica inauguração do Paiol, a 27 de dezembro de 71, os dois espetáculos vistos agora (auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, domingo e segunda-feira), no atual circuito universitário produzido por Fred Rossi, apresentaram muitas e agradáveis surpresas. xxx Jovial, com ótima disposição e externando felicidade resultantes da ótima fase amorosa que vive, ao lado de sua oitava esposa, a argentina Martita - Vinícius de Moraes está com grande força no palco, conduzindo com amor e poesia, quase duas horas de um espetáculo da melhor qualidade. Com muito equilíbrio, mesclando as músicas já conhecidas dos últimos elepes, com trabalho ainda inéditos em gravações, o roteiro não se restringe a Vinícius & Toquinho. Pelo contrário, numa prova do valor que dá a colaboração em equipe, os dois destacam seus colegas, dois dos quais bastante conhecidos. xxx Azeitona (Arnaldo Alves de Lima, 41 anos), baixista, tem em simpatia e "swing" no instrumento, o que lhe falta em altura e apetite: dá um grande balanço no espetáculo e, com sua voz anasalada, bem ao estilo de João Gilberto, canta "Saudades da Bahia" (Caymmi). O gaúcho Mutinho (Lupicinio Morais rodrigues), sobrinho amado do mestre Lupe (1914-1974), canta sua homenagem ao poeta, mais uma (bela) música para a musicografia em referência a De Moraes: "Meu Paramá para Vinícius". xxx A grata surpresa é o instrumentista Roberto Sion, que solos de flauta e saxofone, colore o espetáculo de uma forma nova e de grande dimensão. O desaparecimento misterioso do pianista Tenório Júnior (Francisco Tenório Cerqueira Júnior), há quase 3 meses, em Buenos Aires (fato para o qual até agora não existe qualquer explicação), deixou um grande vazio e, por motivos emocionais, seus colegas não poderiam substituí-lo por outro pianista. A solução acertada foi incluir um executante de metal, no caso o excelente Roberto Sion, 29 anos, integrante da Banda de Nelson Ayres, em São Paulo. Integrando-se a todo clima do espetáculo, suas intervenções atingem os melhores pontos no diálogo com o violão de Toquinho em "Carinhoso"(Pixinguinha-João de Barro) e, ao final, com um desenho harmônico digno de Charlie Parker (1920-1955), em "Se Todos Fossem Iguais a Você". xxx Toquinho (Antonio Pecci Filho), o grande violonista, inspirado compositor e parceiro amado de Toquinho, também tem novidades: um arranjo extraordinário de 4 músicas de Caymmi, onde demonstra que melhora cada vez mais seu estilo ao violão, e três composições inéditas: "Entre a Loucura e a Razão" , em que acumulou letra e música, "Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum" (Passarinho Urbano), em parceira com o cearense Belquior e "Camisa Molhada" , com o paulista Carlinhos Vergueiro. A música com Belchior é uma visão sociológica de tantas frustados-realizados "homens sérios e dedicados ao trabalho e família", limitados em seu horizonte do dia a dia. "Camisa Molhada" é mais uma contribuição a musicografia sobre futebol - só que falando de autênticos craques da várzea. xxx Amor, sinceridade, bom gosto e inteligência fazem com que os shows de Vinícius & Toquinho continuem cada vez melhores. E felizes das 40 cidades deste Brasil, incluídas por Fred Rossi no roteiro universitário deste ano. Em julho, o espetáculo - com a participação da cantora Simone - vai até os Estados Unidos, subindo pela Costa do Pacífico, com escalada em várias capitais latino-americanas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
11/05/1976

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