Caipiras com marketing
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de maio de 1977
A presença em Curitiba, hoje, de algumas das mais populares duplas regionais - como Tônico e Tinoco, Tião Correiro e Pardinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, numa "Festa Sertaneja" empregada pela dupla Leonel Rocha & Campos (Ginásio do Clube Atlético Paranaense, 20 horas) é uma prova de que uma ampla faixa de público responde a promoções especificamente a ela dirigida. O sucesso obtido pelo Iº Festival da Música Sertaneja - por uma irônica coincidência, realizada simultaneamente ao Iº Festival Universitário da Canção, promoção do DCE-Dias 29 de abril a 1º de maio), ofereceu resultados financeiramente tão estimulantes Leonel & amplos - primeira dupla a fazer um elepe no selo Soma, ligado ao grupo Sigla/Globo - animaram-se a investir quase Cr$ 100mil, na contratação de duplas de grande popularidade junto ao público que consome a música sertaneja. Pois Tônico & Tinoco (com mais de 30 anos de carreira), Tião Carreiro e Padrinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, são artistas caros, com cachês fixos e que cumprem extensos roteiros de apresentações, principalmente no interior de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Santa Catarina.
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Um estudo sobre a música é tema sobre o qual há muito insistimos - e que feroz crítico José Ramos Tinhorão, o mais ácido dos pesquisadores da MPB promete para um de seus próximos livros. Pois, o mercado de música sertaneja é amplo, prova nas dezenas de lançamentos mensais feito por 12 gravadoras que disputam o setor, algumas trabalhando apenas com este tipo de produção. E, se em termos históricos, o paulista Cornélio Pires, na década de 20, foi o primeiro a conseguir gravar (na Columbia, hoje Continental) discos com cantores sertanejos, autênticos em sua simplicidade, hoje, as duplas regionais procuram as regras de marketing, numa total perda das origens, mas, evidentemente, com bons resultados financeiros (tanto é que há muitas duplas bilionários, algumas inclusive possuindo até jatinho particular, para facilitar seus deslocamentos). Pedro Bento & Zé da Estrada, por exemplo, que hoje à noite estarão no Ginásio do Atlético, adotaram um estilo mexicano, com chapelões, ponchos e os gritos característicos dos "mariachis". Outras duplas, descaracterizam-se ainda mais : Leo Canhoto & Robertinho nos trajes adotados e fotos nas capas de seus elepês, procuram a linha mais cafona dos bang-bang italianos, enquanto que uma dupla chamada "milionário e José Rico"- adjetivada de "as gargantas de ouro do Brasil"- usam camisas com flores, coláres, óculos escuros e cabelos na linha hippie dos anos 60.
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Para compensar, há também artistas que, conscientemente, voltam-se para o melhor que há na música rural: como Sérgio Reis, ex-cantor ié-ié-ié e que fez fama e fortuna como intérprete regional, vendendo tanto com uma de suas músicas ( "Menino da Porteira"), que a levou para o cinema, num longa-metragem cuja estréia, prevsita para os próximos dias, o trará ao Paraná, para uma série de shows. Outro artista de honestas raízes é Marcelo Costa, da CBS, com trabalho de bastante dignidade.
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A música sertaneja é rica e ampla para estudos. Se não musicais, ao menos sociológicos. E, para o povo humilde, é ainda a predileta.
FOTO LEGENDA- Pedro Benso & Zé da Estrada e seu conjunto mexicano
FOTO LEGENDA1- Milionário e José Rico
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