Calendários, almanaques e a nostalgia do tempo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de janeiro de 1986
Lauro Simões Gonçalves, pessoa sensível às coisas do tempo, decorador de bom gosto e requinte, faz uma observação interessante:
- Aonde foram parar os calendários?
Realmente, comparado ao que acontecia em décadas anteriores, reduziram-se os calendários. No máximo, pequenos cartões, com números cuja leitura exige lupa, informando os dias e meses das semanas deste recém-iniciado 1986. Que saudades - diz Lauro, curitibano de uma época em que a cidade era tranqüila e todos se conheciam - quando os armazéns, confeitarias, restaurantes e casas comerciais não deixavam de oferecer bonitas "folhinhas" aos seus fregueses! Coloridas paisagens, imagens com um amplo espaço destinado a cada mês, com os números e dias da semana ocupando merecido destaque, acrescido de todas as informações: efemérides e dias santificados, fases da lua, etc.
Hoje são raros os calendários distribuídos. Só grandes empresas podem se dar ao luxo de investirem milhões na confecção destes brindes que por tanto tempo eram oferecidos generosamente.
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Calendários com folhas destacáveis, do dia-a-dia, capazes de trazerem informações enciclopédicas - Santos do Dia, cronologia histórica, etc. - então, nem pensar! Além de praticamente inexistirem, perderam seus espaços nas residências e escritórios modernos - onde o passar do tempo é marcado em tecnologicamente perfeitos mas impessoais calendários digitais, alimentados à eletricidade e que oferecem em luzes o dia do mês e da semana, geralmente acoplados a um relógio. Ótimos, em termos tecnológicos e de confronto, mas frios e distantes - como é esta toda a sociedade moderna em que vivemos.
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Também os almanaques de laboratórios farmacêuticos, distribuídos nos antigos boticários, desapareceram. Raros são os que ainda circulam, assim mesmo junto a faixas específicas de clientela. Afinal, desapareceram também os vínculos entre o fornecedor e o cliente e na época dos supermercados (atingindo inclusive as farmácias), não há nada mais que aproxime as pessoas. Aqueles almanaques de linguagem simples, mas generosa, com informações das mais variadas, entremeadas de familiares anedotas e, vez por outra, passatempos para os mais jovens, são hoje peça de museu - e cabe à Biblioteca Pública, aliás, guardar os que ainda restam.
O antigo e respeitado Almanaque d'O Pensamento, guia de milhões de famílias brasileiras por tantos anos, com suas informações, hoje perdeu espaço para o Almanaque Mundial, da Abril, que em volumes cada vez mais encorpados chega às bancas já em outubro de cada ano, a preços elevados.
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Sim, mesmo admitindo a nostalgia, Lauro Simões tem razão em suas saudades do calendário, dos almanaques, de um tempo mais simples em que as coisas eram mais humanas para a felicidade das pessoas...
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