A boa arte dos calendários
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de janeiro de 1975
Houve época em que o fim de ano era a ocasião dos calendários e dos almanaques. Desde pequenos armazéns de secos & molhados aqueles de balcões de madeira e que vendiam de tudo, que já não existem mais (um dos últimos remanescentes era o Armazém Amadeu, na Rua Dr.Murici) - até as grandes industrias obsequiavam os seus clientes e amigos, com calendário de diferentes tamanhos e formatos, enquanto as farmácias distribuíam almanaques repletos de informações para toda a família. Hoje, são raros os laboratórios que ainda editam almanaques e o alto custo dos calendários fez com que desaparecesse mais esta gentileza de dezembro.
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Em compensação, a edição de calendários de luxo, altamente criativos e sofisticados, passou a ser especialidade de algumas grandes corporações com publicações de tão alto nível que passam a ser guardadas como verdadeiros livros de arte. A Pirelli, que há anos vem escolhendo para cada calendário um tema desenvolvido em textos e ilustrações por nomes famosos dedicou seu calendário de 1975 a uma apetitosa temática: pratos típicos do Brasil. Em formato 50 x 68 centímetros, papel da melhor qualidade, 7 folhas impressas nos dois lados, a Publitec Propaganda, criou um dos mais bonitos calendários do ano, com fotos do estúdio Abril e um texto original do sociólogo pernambucano Gilberto Freire.
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Já a Mercedes Benz editou um calendário em formato 30 x 40 centímetros, igualmente papel da melhor qualidade, que está sendo disputadissimo não só por pessoas de bom gosto, mas, principalmente, pelos estudantes e professores de antropologia.
Com o tema "milênios de civilização no Brasil", este calendário é um excelente trabalho sobre o Brasil pré-colombiano, com artísticas fotos de Claudia Andujar Love e George Leary Love, e explicativos textos de Upliano T. Bezerra de Menezes, diretor do Instituto de Pré-História do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP; André Prous professor de Pré-Historia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e Pietro Maria Bardi, diretor do Museu de Arte de São Paulo "Assis Chateaubriand". Não há duvidas de que se todas as grandes empresas seguissem os exemplos da Pirelli e Mercedes-Benz do Brasil S/A, virar a folhinha de cada mês aumentaria a cultura de nosso povo.
Falou & Disse.
Mas quando o pau quebrou
Só ficou quem era gente
Só ficou quem tem amor
(Walter Queiroz
Cesar Costa Filho).
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