A ópera chega cada vez mais nas telas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de fevereiro de 1986
No dia 7 de outubro último, na Tunísia, o diretor Franco Zeffirelli começou a rodar "Otello", da ópera de Verdi, com o mestre Ennio Guarnieri cuidando da fotografia e tendo no elenco o tenor Placido Domingo ao lado de outros nomes marcantes do bel canto como Katia Ricciarelli, Justino Diaz e Petra Malacova. A produção é da Cannon, com a parte executiva a cargo de Meneahem Golan, que em página dupla na edição de 16 de outubro de 1985, do "Variety", já anuncia mais esta superprodução, levando à tela um dos clássicos de Verdi, realizado pelo mesmo diretor de "La Traviatta".
Em 1983, o mesmo Franco Zeffirelli, apaixonando-se cada vez mais pelas possibilidades da ópera transposta ao cinema já havia levado à tela "Cavalleria Rusticana" de Pietro Mascagni (1865-1945), igualmente com o tenor espanhol Placido Domingo (45 anos, 25 anos de carreira e hoje um dos maiores nomes do canto lírico) Ao lado de Elena Obraztsova (Santuzza), Fedora Barbieri (Lucia), Renato Bruson (Alfio) e Axelle Gall (Lola), Placido Domingo tem uma atuação soberba em "Cavalleria Rusticana", cuja trilha sonora foi gravada no Teatro Alla Scalla, de Milão, ainda em 1983, com a orquestra sob regência de Georges Prêtre - e que numa edição da Philips/Polygram, sai agora no Brasil, em álbum duplo.
A ÓPERA NAS TELAS - Embora exista um grupo de fanáticos por óperas em Curitiba - que permutam tapes, vídeo-tapes e agora discos-laser com incrível voracidade - a versão de Zeffirelli para "La Traviatta", lançada no ano passado no Astor teve pouquíssimo público. No final do ano, finalmente chegou ao cine Ritz a belíssima transposição de "Don Giovanni", de Mozart, realizada por Joseph Losey - que a Gaumont tinha há anos à espera de lançamento. Novo fracasso. Agora, insistindo sempre, Francisco Alves dos Santos mantém em exibição, por 3 semanas, outro belo filme de raízes no bel-canto: "Carmen, a Ópera", de Francesco Rossi, inspirado na obra de Georges Bizet - que por sua vez teve o livreto amparado no romance de Prosper Merimée, publicado em 1845. Desde a estréia mundial de "Carmen", em Paris, a 3 de março de 1875, é considerada uma das obras-primas do mundo lírico. A obra de Merimée teve inúmeras versões e adaptações ao cinema e nos últimos três anos acontece um verdadeiro revival "Carmeniano": desde uma tropicalista versão venezuelana até a transformação da personagem em heroína e um thriller policial por Jean Luc Godard ("Prénom: Carmen"), passando pela versão balé de Carlos Saura (já vista em Curitiba) e uma filmagem diretamente do palco, em forma de teatro, do inglês Peter Brook.
Antonio Gades, coreógrafo, intérprete e praticamente co-realizador da "Carmen" de Saura, colaborou também intensamente na versão de Francesco Rossi, fazendo toda a coreografia - enquanto Cristina Hoyos (atriz-bailarina do filme anterior) divide com Juan Antonio Jiménez o duo central de bailados. Lorin Maazel, diretor da Ópera de Viena, regeu a grande orquestra convocada para a gravação da trilha sonora deste filme marcante, estrelado por Placido Domingo como Don José, Julia Migenes Johnson na personagem-título, mais Ruggero Raimondi (que foi "Don Giovanni", na versão de Losey), Faith Esham, Jean-Philippe Lafont e Gerard Garino nos papéis centrais.
"Carmen" é um ótimo programa para quem aprecia filmes de gabarito e deseja conhecer um clássico operístico. Sua trilha sonora foi editada no Brasil pela RCA no ano passado.
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