"Césio 137" é ainda o melhor filme
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de setembro de 1991
Uma semana praticamente sem estréias - considerando que "Maniac Cop, o Exterminador", de William Lusting (Cine São João), destinados a programação "b" é daquelas produções caça-níqueis e as reprises de "Leão Branco - O Lutador sem Lei" (Palace Itália) e "Além da Eternidade" (Always), de Steven Spielberg, não têm maior atração. O filme de Steven Spielberg, com Richard Dreyffus, John Goodnis, desde a semana passada no Lido II é a refilmagem de um melodioso sucesso dos anos 40 - mas que neste "revival" mesmo com toda a competência do "golden boy" do cinema americano fracassou.
O melhor filme do ano, em termos de utilidade pública, por sua coragem e atualidade - "Césio 137" - candidata-se também ao título de maior fracasso do ano. Como já denunciamos, é impressionante que os espectadores desta dita Capital Ecológica e que tem o marketing de ser uma "cidade exigente" em termos de lançamentos, não se tenha interessado em conhecer o documento-drama que Roberto Pires rodou há quase três anos sobre o acidente nuclear ocorrido em Goiânia, em setembro de 1987, e que já provocou 250 vítimas (seis das quais já morreram) e cuja extensão ainda não foi totalmente dimensionada (o destino do lixo atômico da área contaminada ainda é um problema para o governo de Goiás). Premiado nos festivais de cinema de Natal e Brasília (1990), tendo interessado a exibidores e estações de televisão de vários países, além de convites para vários festivais, "Césio 137" é um filme que, com absoluta fidelidade e um ótimo elenco (Nelson Xavier, Joanna Fomm, Denise Milfont, Paulo Gorgulho, Malu Moraes, etc.), um roteiro preciso e documentalmente dos mais honestos, oferece uma visão jornalística do que aconteceu em Goiânia - mostrando que o grande responsável pela tragédia nuclear da contaminação de centenas de pessoas deveu-se à falta de atenção das autoridades e, especialmente, à ignorância da população sobre os riscos nucleares.
Aquilo que aconteceu com o ingênuo Devair Alves Ferreira, dono de um ferro velho no bairro popular do Setor do Aeroporto, que ao comprar uma cápsula de Césio 137, encontrada nas ruínas do Hospital da Santa Casa, recém demolida, poderia se repetir (como pode) em qualquer outra cidade. Abrindo a cápsula e extasiando-se com o brilho das pedrinhas do material radioativo - que distribuiu a amigos e parentes - Dejair contaminou 250 pessoas - e só duas semanas depois é que as autoridades tomaram conhecimento da dimensão da tragédia - que adquiriu repercussão internacional.
Roberto Pires, cineasta baiano radicado em Brasília, escreveu o roteiro a partir de depoimentos e entrevistas das vítimas, fazendo uma minuciosa investigação o que possibilitou a realização de um filme absolutamente honesto.
De visão indispensável para todos que (dizem) se interessar por questões ecológicas, é lamentável que, poucos espectadores tenham comparecido ao Cine Ritz para assistir a este filme que se inclui entre as obras "utilidade pública" no cinema.
Outras Opções - Refilmagem de "Amor, Prelúdio de Morte" (1956, de Gerd Oswald), baseado no romance de Ira Levin (o mesmo autor de "O Bebê de Rosemary", "Um Beijo antes de Morrer") no Cine Condor, em 2ª semana, é um thrilling interessante, que mesmo com Matt Dillon sem o "appeal" de Robert Wagner que criou o papel originalmente, merece ser visto. A direção é de James Dearden e no elenco estão também Sean Young (que alguns comparam a Grace Kelly) e o ator suíço Max Von Sydow e Diane Ladd. Já outro thrilling que continua em cartaz - "Um Local Muito Quente" (The Hot Spot), de Denis "Sem Destino" Hopper é decepcionante: um roteiro mal desenvolvido, baseado na novela "Hel Hath no Fury", de Charles Willians, repleto de chavões, tipos estereotipados e um elenco que apesar da beleza de Jennifer Connely - anotem este nome - não resiste a partir dos 30 minutos iniciais.
"Uma Loira em Minha Vida", de Jerry Rees, com a deliciosa Kim Bassinger cantando standards de Cole Porter e casando e descasando com Alec Baldwin ("Simplesmente Alice") é uma comédia gostosa que está emplacando e permanece no Cinema I.
Sessão Especial - À meia-noite de amanhã, no Ritz, em exibição "Drugstore Cowboy", elogiado filme que Gust Van Sant realizou em 1989.
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