"Césio 137", o filme sobre a tragédia radiativa de 87
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de outubro de 1990
Brasília
Mesmo que não saia premiado deste 23º Festival de Cinema Brasileiro, dificilmente "Césio 137", o longa programado para hoje a noite estará entre os mais discutidos filmes em competição. No ano passado, durante o 22º Festival (1º a 7 de novembro), quando Roberto Pires havia recém-encerrado as filmagens deste misto de ficção e documentário sobre a tragédia do incidente de contaminação radiativa acontecido em Goiânia, há três anos, já se falava na atualidade da obra que aborda um aspecto preocupante - e que poucas vezes tem sido tratado no cinema brasileiro.
Baiano, integrante da geração que, no final dos anos 50, fez em Salvador o polo de maior energia criatividade do cinema brasileiro, tendo realizado, já em sua estréia um longa que teve ótima acolhida, "Redenção", Roberto Pires reside há muitos anos em Brasília. Com uma filmografia que inclui filmes de forte presença social, produzidos por Rex Schindler, como "A Grande Feira" e "Tocaia no Asfalto" - que tinha em seu elenco nomes que se destacariam nacionalmente como Geraldo Del Rey, Pires se deslocaria depois para o Rio de Janeiro onde fez um trilling interessante. De volta a Bahia, por mais de um ano enfrentou problemas para um projeto que, de certa forma, antecede a "Césio 137".
"Abrigo Nuclear", science-fiction sobre a hecatombe nuclear. Norma Benguel foi uma das atrizes que, entusiasmada com o projeto de Pires, aceitou trabalhar praticamente com um salário simbólico. Infelizmente, a exemplo de outro ficção-científica ecológico ("Parada 90 - sinal de Alerta"), de José de Anchieta, poucos espectadores viram "Abrigo Nuclear", praticamente marginalizado em sua distribuição.
Radicado em Brasília, embora sem desaquecer seus projetos cinematográficos, Roberto Pires só em 1989 voltou duplamente ao cinema fazendo um dos cinco episódios de "A Última Utopia", exibido hors concours no encerramento do Festival em 7/11/89 e, com financiamento de um empresário de Anápolis, abordando a tragédia de Goiânia em "Césio 137". Finalizado somente este ano, o longa foi cortado pela comissão de pré-seleção no último Festival de Gramado mas, no 4º Festival de Cinema de Natal, há poucas semanas mereceu algumas premiações. No elenco, entre nomes nacionais estão Joanna Fomm (que também se entusiasmou com o projeto, participando afetuosamente do filme, Nelson Xavier, Paulo Gorgulho e José Bettio.
Em entrevista a Wilson Cunha, no "Cinemania" (Rede Manchete), do último sábado, Pires anunciava que o produtor do filme, independente dos resultados de bilheteria, está disposto a financiar um novo longa sobre o mesmo tema - só que numa abordagem sobre o destino das dezenas de pessoas que foram vítimas da contaminação - e que, passados três anos, sofrem suas conseqüências. Assim, pela atualidade do assunto, baseado em fatos reais, independente de uma apreciação crítica, "Césio 137" se afigura, neste segundo dia do Festival, com um importante filme em exibição - e que deve merecer grande cobertura.
Como curtas, serão apresentados "Espectadores", de Tadeu Lmitsem (São Paulo) e "Memória", de Roberto Henkil (Porto Alegre). Para amanhã está prevista a exibição de "Cine-Hakai", o filme que Pedro Anisio realizou em homenagem a Paulo Leminski, com seqüências filmadas em Curitiba. Boicotado pela FUCUCU/Secretaria Municipal de Cultura - que se negou a dar qualquer auxílio para sua finalização (o que fez com que o filme adquirisse a forma de "Hakai cinematográfico", com apenas cinco minutos), o curtíssimo de Anisio foi aceito para ser exibido na mostra competitiva - antecipando na sessão de amanhã a "Uzebriolouca", de Adilson Ruiz e o longa "Escorpião Escarlate".
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Embora sem a participação do mineiro Marco Antônio, que durante anos foi o principal executivo do Festival de Brasília, a promoção deste ano foi organizada de forma a repetir o esquema adotado em 1989: concentrando os debates e encontros no hotel-sede - o amplo e recém-inaugurado Kubistchek Plaza - com um previlegiamento a mesas redondas que possam permitir análise das dificuldades do cinema - e agora também em vídeo e televisão (previstos para as reuniões deste fim-de-semana), só acontecendo no cine Brasília, pertencente a Fundação Cultural do Distrito Federal as sessões de exibição. Toda a realização está sendo bancada pela Secretaria de Cultura/Fundação Cultural/Governo Distrito Federal, com apoio de alguns órgãos privados. Cinco jovens experientes de mostras anteriores coordenam os vários setores - Margarida Oliveira, Moema Mueller, Maria Luisa Dornes, Beatriz Barcelos e a paranaense Cuka (Maria Aparecida Braga).
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