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Aramis

"Césio 137", estréia importante

De longe, o mais importante filme que finalmente chega a Curitiba é o contundente e atualíssimo "Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia", de Roberto Pires - documento-drama sobre a tragédia ocorrida há quatro anos. Para disputar com "Ghost" - que continua a caminho de chegar a um ano em cartaz, num recorde cinematográfico (Lido I), estréia outro filme romântico, calcado no "Love Story" de Erich Segal / Arthur Hiller: "Tudo por Amor" (Dying Young), de Joel Schumacher, que com Julia "Uma Linda Mulher" Roberts e o ainda desconhecido Campbell Scott, embalados por um tema no sax de Kenny G (à disposição em CD e vinil), tem estréia nacional no Astor. "Remarke" de um dos melhores thrillings dos anos 50 - "Amor, Prelúdio da Morte" (A Kiss Before Dying, 56, de Gerd Oswald), "Um Beijo antes de Morrer" é uma estréia interessante no Condor - do qual foi desalojada a comédia "Rei por Acaso" (King Ralph), de David S. Ward, agora no Lido II. Outro thrilling, este mais na linha "road movie" é "Um Lugar muito Quente" (The Hot Spot), de Dennis Hopper, com uma história que lembra filmes como "Corpos Ardentes": adultérios, crimes, paixões numa cidade (no Texas) em que os habitantes transpiram erotismo e violência. No Cine Groff, a partir de hoje. A quinta estréia é "Força de Choque" (Shock Troop), de J. Christian (São João), drama bélico, sem maiores referências e que fica como terceira opção nesta semana em que há ainda bons filmes a serem conferidos como "Hamlet", de Zefirelli (Itália), "Uma Leitora bem Particular" (La Lectrice) de Michel Deville e a surpreendente comédia (com toques musicais, graças a canções de Cole Porter) "Uma Loira em Minha Vida" (The Marrying Man / Too Hot to Handle), de Jerry Rees, com Alec Baldwin ("Simplesmente Alice") e Kim Bassinger ("9 ½ Semanas de Amor") que ganhou uma segunda semana no Cinema I. Tragédia - Não poderia existir filme mais atual para nossos dias: "Césio 137" conta, em linguagem seca, objetiva e corajosa, a tragédia ocorrida em setembro de 1987, quando por ignorância de várias pessoas uma cápsula de Césio 137 (material radioativo) encontrada nas ruínas de um hospital acabou num ferro velho e contaminou milhares de pessoas - ocasionando a morte imediata de várias delas e sofrimentos irreversíveis em centenas de outras, conseqüências que, passados quatro anos, ainda não podem ser avaliadas em toda sua extensão. Emocionante - justamente pela advertência que faz (e o diretor, Roberto Pires, que hoje deverá comparecer à pré-estréia no Cine Ritz, tem importantes revelações a fazer), "Césio 137" é uma obra de atualidade mundial, o que explica o interesse de países estrangeiros por sua exibição, enquanto que no Brasil - embora premiado nos festivais de cinema de Natal e Brasília - continua inédito, tendo agora uma das primeiras estréias no circuito comercial (espera-se que a FUCUCU tenha a dignidade de mantê-lo em exibição ao menos por três semanas, já que Curitiba pretende o título de "Capital Ecológica"). Muito se pode falar de "Césio 137": a importância da denúncia, os méritos de realização, os ótimos desempenhos de um elenco de primeira linha (Nelson Xavier, Joana Fomm, Paulo Betti, Paulo Gorgulho, Denise Milfont, Stephan Necerssian, Marcélia Cartaxo, Thelma Reston, Malu Moraes, Liege Salgado, etc.) e, sobretudo, a consciência ecológica de Roberto Pires, pioneiro do cinema baiano (em 1957, já realizava o hoje histórico "Redenção"), amigo e estimulador de Glauber Rocha e que hoje reside em Brasília. Voltado aos temas nucleares há mais de uma década (em 1981, concluiu "Abrigo Nuclear", com Norma Bengel), Pires pretendia realizar uma segunda parte de "Césio 137", contando o que está acontecendo com as vítimas da contaminação - que, passado o impacto das notícias de 1987, foram praticamente abandonadas pelas autoridades. Infelizmente, apesar da disposição do produtor goiano Luís Antônio de Carvalho em financiar esta indispensável continuidade, as dificuldades de lançamento de "Césio 137" retardaram o projeto. LEGENDA FOTO - Refilmagem de um excelente thrilling de 1957, "Um Beijo antes de Morrer" - com Matt Dillon e Sean Young - é a estréia no Cine Condor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
13/09/1991

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