Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de agosto de 1980
GRAÇAS ao Italianos, vale a pena sair de casa e ir ao cinema nesta semana. No Astor, finalmente em exibição, "La Luna", de Bernardo Bertolucci. No Lido, um filme que esteve proibido por 8 anos, mas que agora chega, conservando a mesma força e vigor: "Sacco e Vanzetti". Temos ainda uma sofisticada produção americana, abordando um tema atrevido - e que mostra o liberalismo do cinema americano: "Gigolô Americano". Há ainda filmes de aventuras, para a garotada - "A Ilha dos Ursos" e "Passageiros em Perigo", e muito erotismo a quem curte. E, quem não viu da primeira vez, pode aproveitar o festival de reprises da 20 th Century Fox, no Cinema 1, e (re)ver filmes de Mel Brooks, Altman, Fellini e Ridley Scott terminando com uma estréia aguardada há muito: "O Marinheiro Que Caiu em Desgraça Com o Mar", de Lewis John Carlino, conhecido dramaturgo, autor, entre outras peças de "O Exercício", que José Maria Santos e Lala Schneider encenaram em Curitiba, há alguns anos. Anteriormente Carlino dirigiu "Sangue de Irmãos", sobre a Mafia. Não confundir com "Irmãos de Sangue" (Young-brothers), de Robert Mulligan com Richard Gere, o mesmo ator de "Gigolô Americano", que a Warner ainda não lançou no Brasil.
"La Luna", de Bernardo Bertolucci, exibido na Europa e Estados Unidos no ano passado e que a 20th Century Fox, dentro de sua programação comemorativa aos 60 anos no Brasil, lança agora, é um filme adulto. Depois de "O Último Tango em Paris", em sua polêmica sexual, e da visão política da Itália na primeira metade deste século em "Novecento" (cuja segunda parte será exibida amanhã, a meia-noite, no Astor), Bertolucci se voltou a outros temas explosivos: incesto e drogas. Com Jill Clayourgh (a excelente atriz de "Uma Mulher Descasada", de Paul Mazuresky), lançando o garoto Matthew Barry e com dois veteranos atores europeus - Renato Salvatori e Tomas Milian, "La Luna" - desde ontem em exibição no Astor tem tudo para atrair a faixa inteligente de público, que aprecia obras de idéias, inquietantes e atuais.
"Sacco e Vanzetti", realizado há 10 anos e que chegou a ter algumas exibições no Brasil em 1973, tem sabor de estréia: afinal, junto com outros filmes polêmicos e inquietantes ("Sopro no Coiração", de Louis Malle; "Mimi. O Metalurgico", de Lina Wermuller e "A Classe Operária Vai ao Paraíso", de Elio Petri), foi retirado de circulação por decisão da Censura, numa das muitas agressões contra a arte cometida nos anos mais duros da repressão. Giuliano Montaldo, 56 anos, cineasta engajado e que chegou até a dirigir um filme no Brasil, em 1967 ("A qualquer Preço/Ad Ogni Costo, com Janet Leight e Edward G. Robinson), tem poucos filmes, mas todos bastante vigorosos. Deles, o mais conhecido do público é "Giordano Bruno", 1973, com o mesmo Gian Maria Volonté que três anos antes, interpretou o sapateiro Nocola Sacco na transposição à tela da tragédia dos imigrantes italianos, anarquistas, que sob uma falsa acusação de terem participado de um assalto, foram condenados a morte. Interpretando o peixeiro Bartolomeo Vanzetti, Ricardo Cucciola foi considerado o melhor ator no Festival de Cannes, em 1971, enquanto o filme de Montaldo ganhou o troféu de melhor obra exibida no festival de cinema de Moscou, no mesmo ano. No elenco estão ainda outros bons atores - Milo O'Shea, Cyril Cusack. A trilha sonora é belíssima composição de Ennio Moricone, com a balada-tema interpretada por Joan Baez. Mas o importante é a força política do filme, narrando um fato verídico, ocorrido há quase 60 anos e que provocou do presidente Franklin Delano Roosevelt a exclamação: "O delito mais atroz cometido neste século pela justiça humana". Em exibição no Cine Lido, "Sacco e Vanzetti" merece ser visto e, a exemplo de "La Luna", analisado com muito critério.
Roteirista de "Taxi Driver", diretor de um importante filme sobre sindicalismo em Detroit, a ABC dos EUA - "Vivendo na Corda Bamba" (The Blue Collar) - exibido apenas 2 dias no Cinema 1, há algum tempo, e do moralista "No Submundo do Sexo"(Hardcore), Paul Schrader não esconde sua visão calvinista em "O Gigolô Americano" (Cine Condor, desde ontem). Embora abordando um tema audacioso - a prostituição masculina, de alto luxo, em ambientes sofisticados de Los Angeles, "American Gigolô", tem um condicionamento puritano e um final que desagrada a muitos. Mas é um filme luxuoso, bem realizado, com uma balançante trilha sonora do industrializador europeu da "discotheque", Giorgio Morager (lançada no Brasil pela Polygram, na série "O Melhor do Cinema") e que traz no elenco duas belas figuras: Richard Gere, apontado (contra sua vontade) como o "sex symbol" dos anos 80 e Lauren Hutton, não só a mais bem paga modelo americana, mas uma atriz até que razoável. Gere, em junho último, esteve no Brasil, em férias com sua namorada Silvia Martins e, na oportunidade, falou com alguns jornalistas - E uma síntese de sua entrevista estaremos publicando em outro espaço, a proposito da estréia deste "American Gigolo". Aliás, Gere foi o astro do belo "Cinzas no Paraíso" e em breve, a Columbia lança "Os Ianques Estão Cegando", onde ele também tem papel de destaque.
Para quem aprecia filmes de ação, duas opções. No Cine Rivoli, "A Ilha dos Ursos" (Bear Island), de Don Sharp, com Donald Sutherland, Vanessa Redgrave, Richard Widmark, Christopher Lee e Lloyd Bridges. O mesmo Christopher Lee, ex-astro da série de terror da inglesa Hammer Productions, e um cruel nazista em "Passageiros em Perigo" (The Passage), de J. Lee Thompson, com Antony Quinn, James Mason (que tem aparecido em dezenas de filmes nos últimos meses), Malcon McDowell e a sensível Patrícia Neal (há anos ausente das telas). No Cine São João, salvo substituição de última hora.
Enquanto "Adeus, Emanuelle", de François Letterier - terceiro da série autêntica, continua no Vitória, o cinema nacional está representando com duas porno-produções, quase pornografias declaradas: "A Noite das Taras", em 3 sketches (dirigidos por david Cardoso, John Doo e Ody Fraga), que já se pagou em São Paulo no Plaza, e "O Bordel, Noites Proibidas", de Osvaldo de Oliveira, com Rossana Ghessa, Mário Benvenutti e Rita de Cássia, no Avenida.
Enquanto "O Império dos Sentidos" é proibido (a não ser para o filho, 16 anos, do ministro Abi-Ackel, da Justiça), porno-produções como estas são liberadas. Mas, felizmente, o Conselho Superior de Censura tem sido inteligente: "Decameron", que Pier Paolo Passolini (1922-1975) realizou em 1972, finalmente foi liberado e tem hoje sua pré-estréia na sessão da meia-noite do Astor e lançamento segunda-feira, no Vitória. Vamos ver se "Os Contos de Canterbury" (73), "Il Fiore del Mile e Una Notte" (74) e "Salo ou 120 Giornati di Sodoma" (1975), os três últimos filmes de Passolini também conseguem chegar as nossas telas. "Mulher Nota 10"(Tem), de Black Edwards, coma deliciosa Bo Derek, está agora no Bristol, para onde deve passar "Adeus, Emanuelle", na segunda-feira.
Finalmente, no Cinema I, um festival de reprises da Fox. Começou com "Alta Ansiedade" (High Anxiety, hoje, às 14h30 min e 20h30 min), prossegue com "A Última Loucura de Mel Brooks" (amanhã e domingo) e inclui depois duas belas obras de Roberto Altman - "Cerimônia de Casamento" (1o e 2 ) e "Três Mulheres" (3 e 4). Nos dias 5 e 6, "Casanova de Fellini" e a 7 e 8, "Allien, o Oitavo Passageiro", excelente ficção-cientifica de Ridley Scott. No final, uma estréia: "O Marinheiro Que Caiu Em Desgrada Com o Mar", de Lewis John Carlino.
Decisões de última hora: "Mulher Nota 10" (Ten), de Black Edwards, continua em exibição no Astor e "Hair", 79, de Milos Forman, fica no Bristol. Com isto, "La Luna", de Bernardo Bertolucci - o mais aguardado filme da temporada, continua na fila de espera.
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