Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de janeiro de 1974
É perigoso brincar na máquina do tempo do cinema. Os filmes que nos entusiasmaram na adolescência revistos hoje podem não trazer mais o mesmo encanto primaveril das matinês despreocupadas dos cines Luz e América - de uma cidade que hoje só existe nostalgicamente na saudade. "O Gavião e a Flecha" (The Hawk and the Arrow, 1960), que a Warner Brothers resolveu relançar simultaneamente a "O Pirata Sangrento" (The Crimson Pirate, 1952) foi um momento de entusiasmo há duas décadas, com Burt Lancaster, no vigor de seus 37 anos e apenas quatro de carreira, mostrando toda sua agilidade de malabarista, ao lado de um expressivo coadjuvante, Nick Cravat, cuja carreira, infelizmente, ficou restrita a estes dois títulos. Revisto hoje, "O Gavião e a Flecha" lembra uma ingênua história-em-quadrinhos, sem violência, em que mesmo os "bandidos" não chegam a ser feridos de verdade e o descolorido technicolor não tem chance de, uma única vez, mostrar o vermelho sangue dos vilões. Virgínia Mayo - loira, canastrona e inexpressiva aos 28 anos (hoje cinquentona, há muito ausente das telas), é a "mocinha" que só uma única vez beija o herói - um personagem preocupado com o seu filho, saudavelmente criado ao ar livre - tema ao qual voltaria na única experiência de Lancaster na direção ("Homem Até o Fim - The Kentuckian", 1955) - ameaçado pelo nobre povo da Lombarda (a ação se passa na Itália, no século XII).
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