Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de fevereiro de 1974
É curioso o critério de relançamento por parte das grandes produtoras-distribuidoras americanas: enquanto procuram destruir impiedosamente os filmes de alto nível artístico, após vencido o prazo de censura (5 anos), recusando-se sistematicamente a entregar as cópias às cinematecas, - e privando assim imensa faixa de público de conhecer grandes momentos do cinema norte-americano - estão sempre prontas a pagar as taxas do INC e reprisar produções sem maior nível, mas que podem faturar bastante junto a um público mais jovem, que não viu as fitas quando de suas estréias, há 20, 15 ou 10 anos. Por exemplo, apesar do empenho do crítico Ademar Carvalhaes, diretor do Departamento de Cinema do Museu de Arte de São Paulo, junto a Columbia Pictures, a última cópia que existia em nosso País do clássico "A Marca da Maldade" (The Touch of Evil, 1957, de Orson Welles), no sentido de que a mesma não fosse destruída, os executivos da empresa americana não se sensibilizaram e assim hoje não existe mais uma única chance de se conhecer este grande momento da obra de Welles. Em compensação, "O Candelabro Italiano" (Romani Adventure, 1959 de Delmar Daves) foi recensurada três vezes - e reprisada outras vezes - antes da Warner Brothers vender seus direitos para a televisão. Agora, sentindo cada vez mais as limitações do mercado de fitas novas para o público infantil - uma considerável fatia do bolo de espectadores principalmente nos longos períodos de férias - algumas produtoras estão desenterrando as produções águas-com-açúcar que, na década de 50, encantaram os adolescentes - hoje já com condições de reverem nostalgicamente estas produções e ainda levarem seus filhos. Assim é que a Warner Brothers - a mesma empresa que poderia reprisar os melhores momentos de Elia Kazan ("Vidas Amargas - East of Eden", 1955, "Boneca de Carne - Baby Doll", 1956, "Um Rosto na Multidão - A Face In The Crown", 1957), para só citar um exemplo, prefere relançar duas fitas de aventuras significativas apenas por terem revelado em Burt Lancaster um bom acrobata como ator: "O Gavião e a Flecha", 1950, de Jacques Torneur e "O Pirata Sangrento", 1952, de Robert Sidomark (1900-1972), épicos em movimentação - em especial o segundo, lembrando um clássico do cinema mudo - "O Pirata Negro" (The Black Pirate, 1926, de Albert Parker), estrelado pelo lendário Douglas Fairbans (1883-1939).
Agora a Paramount Pictures, também está desenterrando as digestivas produções de Cecil Blount De Mille (1881-1959), um dos últimos cineastas "tamanho família", que dedicou quase toda sua obra ao "público de todas as idades". Assim é que após o bíblico "Sansão e Dalila", que em 1949 consagrava Victor Mature ao Lado de Haddy Lamar - em meu apogeu - temos a reprise de "O Maior Espetáculo da Terra" (Cine Excelsior), produzido há 22 anos e até hoje um dos filmes de maior bilheteria. Quando foi lançado, "The Greatest Show On Earth" provocou uma epidemia de filmes com temas ligados ao circo - sem dúvida, bastante fascinante para o público que procura o cinema apenas para divertir-se.
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