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Aramis

Cinema & Sindicalismo

Se apenas os cinemaníacos mais fantásticos - e acima dos 30 anos - conseguiram assistir << Greve >> (Stachka), 1928, primeiro longa-metragem do russo Sergei Eisnenstein (18989-1948) - o mestre do cinema soviético, temos agora a coincidência de uma série de filmes que têm os operários e o sindicalismo como tema, estar passando praticamente desapercebida na cidade. << Norma Rae >>, 1979, de Martins Ritt, que valeu o Oscar de melhor atriz - e teve << nominations >> em várias outras categorias, amplacou apenas sete dias, com magras rendas que desestimulam a João Aracheski a programar sua reprise mesmo em sessões da meia-noite. << Vivendo na Corda Bamba >> (The Blue Collar, 1978), de Paul Schrader, não passou de dois de exibição no Cinema 1, onde, hoje, tem suas últimas exibições << F.I.S.T. >> EUA, 76 de Norman Jewison, por várias vezes programado e adiado no Bristol, onde << Emmanuelle, a Verdadeira >>, de Just Jaeckin, continua a ter um faturamento que garante sua permanência em cartaz. Considere-se que dois dos mais representativos filmes políticos italianos que se voltaram ao tema << operário>., ambos cassados no auge da repressão e do obscurantismo da censura, embora agora novamente liberados, ainda não chegaram aos nossos cinemas: << Mimi, o Metalúrgico >> (Mimi Metalúrgico), 72 de Lima Wertmuller e o esplêndido << A Classe Operária vai a Paraíso >>, que Elio Petri (1929-1978) realizou no mesmo ano, com Gian Maria Volonté e a cearense Florinda Bulcão. Some-se a isso as preocupações de cineastas brasileiros, políticos e polêmicos, como João Baptista de Andrade, que documentou os recentes movimentos grevistas no ABC de São Paulo, faça-se uma breve retrospectiva em torno da temática - e eis um material para um excelente seminário, capaz de motivar discussões. promoção, capaz de ter boa repercussão, especialmente entre a faixa de espectadores sensíveis às relações << cinema e problemas sociais >>. << F.I.S.T. >> - o título é a sigla da Federação Interestadual de Rodoviários , nos Estados Unidos tem um roteiro claramente sugerido por recentes fatos ocorridos naquele pais: as ligações do crime organizado com poderosas entidades representativas de trabalhadores. Documentando a trajetória de um operário, de Cleveland, Ohio, em 1938, até o seu assassinato recentemente, quando na presidência de uma federação internacional, o filme de Norman Jewison tem o ritmo de um documentário. Pode ser que alguns vejam no filme conotações críticas ao movimento síndical, assim como Elia Kazan, em 1954, foi acusado pelos patrulheiros ideológicos de então, ao realizar << Sindicato de Ladrões >> (On The Waterfront), com roteiro de Budd Schulberg, excelente fotografia de Boris Kauffmann (irmão, por sinal, do russo Dziga Vertova (1896-1954), criador da chamada << Câmara-olho) e que denunciava a corrupção de uma diretoria de sindicato de estivadores. Ainda sofrendo os reflexos do maccarthismo - em 1953, para provar que não era comunista. Kazam havia realizado << Os Saltimbancos >> (Man on a Tightrope). Kazan, em seu << Sindicato de Ladrões mostrava até onde um grupo corrupto podia prejudicar o movimento trabalhista - mas o final acaba de forma moralista. Indicato a vários Oscars, << On The Waterfront >> ficou com os troféus de melhor filme, ator (Marlon Brando), atriz (Eva Marie Saint) e direção, entre outros. << F.I.S.T. >>, obviamente, não tem a força do filme de Kazan - e nem mesmo a emoção de recente << Norma Rae >>, que outro cineasta perseguido pelo maccarthismo, Martin Ritt, realizou no ano passado. Mas como << Norma Rae >>, o filme de Jewison busca, no início, mostrar a dificuldade dos líderes sindicais, em conscientizarem os operários da importância de se assinarem em entidades de classe e lutarem por seus direitos. No filme de Ritt, igualmente sugerido por fatos reais, a ação se concentra numa fase mais curta, onde a personagem-título (Sally Field, numa interpretação merecidamente premiada com o Oscars), torna-se uma importante ativista sindical, conseguindo fazer valer os direitos do trabalho. Já o operário Kovak (Sylvester Stallone), começa trabalhando apenas como << agenciador >> de associados para um pequeno sindicato de carreteiros, mas aos poucos vai se tornando um líder. Frente à repressão dos patrões, não tem outra opção do que aceitar a << proteção >> de gangsters, conseguindo, assim, fazer crescer sua influência no meio operário e chegando à cúpula da entidade, após verificar a desonestidade do antigo líder. Os relacionamentos do << peleguismo >> - tão conhecido no Brasil, em relação aos operários, a malversação dos fundos sindicais, a necessidade de uma luta organizada, são aspectos que mesmo não sendo devidamente enfocados no filme - culpa talvez do roteiro ter sido co-dividido com Sylvester Stallone, que desde << Rocky, o Lutador >> (1976), insiste em ser ator roteirista e até diretor - motivam que se dê atenção a esta produção, Stallone, é bom lembrar, mesmo sendo um ator limitado, tem mostrado preocupações sociais: em << Rocky >>, sua grande chance, já partia de uma classe social humilde, voltando a temática na continuidade, e já então com sua direção e, também mostrando o desejo de ascensão social em << A Taberna do Diabo >> (Paradisse Alley), << F.I.S.T. >> deve muito de seu ritmo ágil à competência de Norman Jewison, 58 anos, que após algumas comédias cor-de-rosa (<< 20 Quilos de Confução >>, << O Tempero do Amor >>, << Não Me mandem Flores >> e << Artistas do Amor >> as 3 últimas com Doris Days) e o vigoroso << a Mesa do Diabo >> (The Cincinatti Kid, 65), realizaria a sátira << Os Russos Estão Chegando >> e com << No Calor da Noite >> (In The Head of the Might, 67), conquistaria o Oscar de melhor filme e daria a Rod Steiger o de ator. Nos últimos anos, frequentando o polícial sofisticado (<< Crown. O Magnifico >>), a nostalgia dos anos 20 (<< Uma Certa Casa em Chicago >>), o musical (<< Um Violinista no Telhado >>, << Superstar >>) e até a ficção cientifica (<< Rollerbal/ Os Gladiadores do Futuro >>), Jewison teve um trabalho bastante diversificado. Em 1976, chegou a dirigir algumas seqüências de << Um Toque de Mágica >> (Magic recentemente exibido no o Bristol), mas preferiu partir para o projeto, de << F.I.S.T. >>, Sem ser o melhor filme sobre o tema sindicalismo, ao menos procura ser honesto na colocação do personagem central - em suas dúvidas e preocupação em lutar por um caminho. Sua visão independente talvez não permita uma melhor confrontação, mas dentro de um panorama geral do sindicalismo no cinema, << F.I.S.T. >>, torna-se um programa recomendável. O que justifica que ainda hoje, os interessados, procurem conhecê-lo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
09/07/1980

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