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Aramis

A cinematográfica música de Valença

Dentre os chamados nordestinos bem sucedidos, Alceu Valença (São Bento da Una, Pernambuco, 1/7/1946), é um dos que tem uma das carreiras mais densas e positivas. Ex-jornalista (JB, Bloch Editores, no Recife), 19 anos de vida musical - estreou em 1968, no show "Erosão: a cor e o som", Alceu faria o primeiro lp em dupla com Geraldinho Azevedo e, em 1972, interpretaria um personagem importante em "A Noite do Espantalho", que Sérgio Ricardo rodou em Nova Jerusalém. Compositor de fortes raízes mas que se fundiram a uma influência beatleniana, alcançando mercado internacional nestes últimos anos, Alceu Valença está com novo visual - sem a barba e o bigode que o caracterizavam - e um novo lp, o segundo que faz na RCA ("Rubi"). Apaixonado por cinema, Alceu em recente entrevista a Dilson Osugi, do "Jornal da Tarde", falou que imaginou este seu novo disco como alguém que planeja um filme, tendo um roteiro básico centrado em dois eixos conceituais, ligados melodicamente por poucos instrumentos numa tentativa de reforçar a imagem poética. - As músicas têm que ter uma ligação, um entendimento, caso contrário não é possível entender nada. Nesse disco pude perceber a importância dos cheiros e das lembranças. Uma coisa cinematográfica que me fascina muito, quase como uma liturgia. Quando faço uma música, faço os arranjos, procuro caracterizar isso. Aproveito os planos, os ecos, de colocar instrumentos em planos, dar ambiência, tenho noções do espaço em que esta música está sendo cantada, numa amplitude tão grande que lembra em muito as cenas cinematográficas. Em seu disco anterior ("Estação da Luz"), Alceu Valença propunha uma visão plástica, com um trabalho dos mais criativos. Agora, dá em "Rubi" esta caleidoscópica proposta cinematográfica, com caboclinhos, ciganas, pastores, o carnaval, a solidão e a ciranda. Uma admitida quase volta ao denso "Molhado de Suor", revestida de modernidade instrumental e tecnológica. Com exceção de "Me Segura Que Senão Eu Caio" (J. Michillis) e "Mar de Amor Menina" (Bubuska), todas as faixas são de Alceu, múltiplo e versátil em seus temas, que ele assim explica: "Não tenho intenção de regionalizar meu trabalho. Ele é universal e do mundo. Eu sempre vou ler o mundo, a experiência urbana, internacional através do meu ponto de vista. Não saio da cultura popular, aceito tudo que vem em relação à música e procuro incorporar isso ao meu trabalho, sem que haja conflitos." E em músicas como "No Romper da Aurora", "Cheiro da Saudade", "Amiga da Graça" e na canção que dá título ao disco, Alceu extravasa sua visão do mundo - refletindo a saga pernambucana "das penas do amor covarde ao frevo que nos inflama". - Falo de amores em minha trajetória, de um delírio desse poeta escravo-cardíaco das estrelas. Dessa quase dor, das relações que se quebram e da decisão. Por outro lado, falo da esperança da natureza, do lado lúdico, do carnaval e da urbanidade que está presente em minha criação. LEGENDA FOTO - Alceu sem barba: um novo visual.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
25/01/1987

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