Coutinho, nosso homem em Havana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de fevereiro de 1986
Edilberto Coutinho, hoje um escritor premiado internacionalmente, é lembrado ainda pelos ouvintes do antigo Clube Juvenil M-5, como aquele garoto que no início dos anos 50 era o "jovem mestre de cerimônias" do programa de auditório da Rádio Guairacá, comandado pelo pioneiro do rádio paranaense, Aluisio Finzeto. Edilberto, paraibano de João Pessoa, passou parte de sua adolescência em Curitiba e fez carreira como jornalista e escritor. Foi, aliás, um dos raros brasileiros a entrevistar, por três vezes, o romancista Ernest Hemingway.
Agora, Edilberto surge como um nome forte para ocupar o cargo de adido cultural em Cuba, tão logo o Brasil reate relações com aquele país.
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Eis o que publicou o jornal "Última Hora", em sua coluna "Balaio", há algumas semanas: "Corre em paralelo, ao nome de um embaixador de carreira que representaria o Brasil em Cuba, o de Jorge Amado, que conta com uma torcida intelectual e partidária política das mais fervorosas. No caso de Amado ser nosso embaixador junto a Fidel, para o cargo de adido cultural, está sendo cogitado o do também escritor Edilberto Coutinho, que já ganhou o prêmio Casa de las Americas, de Havana".
Comentário de Edilberto à coluna, a propósito deste plá:
- "Minha única certeza, em meio a esse noticiário, é com respeito ao prêmio Casa de las Americas, realmente atribuído ao "Maracanã, Adeus". Seria bom, é claro, poder ajudar a divulgação cultural do País, em Cuba ou onde fosse. Mas nem sei ao certo como essas designações ocorrem. Creio que só mediante forte interferência política.
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Falando em Coutinho, ele acaba de lançar novo livro pela Companhia Editora Nacional: "Das Artes de Pedro" - sua estréia na faixa infanto-juvenil, fazendo uma "revista" ao tema de Pedro Malasartes. Não tem intenção ostensivamente ou limitadamente didática, mas - a seu modo, admite o autor - procura "ensinar", com as várias lições do herói invencível, astucioso, cheio de expedientes e enganos. Com suas manhas e cálculos, Pedro vence sempre. "Algumas pessoas associam Pedro Malasartes com o diabo, mas também São Pedro - o Divino Chaveiro - é geralmente apontado como exemplo de finura e quase velhacaria, sempre muito simpático, na linha de meu personagem."
Coutinho diz que mostra neste livro - incluído na coleção Passelivre, "a astúcia como arma do fraco contra o forte, que nivela, iguala". Pedro não se importa com os meios para atingir suas finalidades. Mas a sua luta é contra os avarentos, os orgulhoso, os prepotentes e os vaidoso de todos os tipos.
Na faixa adulta, teremos em breve "Os Melhores Contos de Edilberto Coutinho" - seleção e apresentação de Silviano Santiago, na coleção dirigida por Edla Van Steen (catarinense de larga quilometragem curitibana nos anos 50, hoje esposa do crítico Sabato Magaldi e morando em Paris) pela Global, de São Paulo. E, até o final do ano, deve estrear o filme de Braz Chediak, música de Marlos Nobre, inspirado nas histórias de futebol reunidas por Edilberto Coutinho em "Maracanã, Adeus", que já ganhou os prêmios Casa de las Americas, de Havana, e Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras.
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