Criatividade supriu a falta de documentação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de março de 1986
As dificuldades que Nivaldo Lopes teve para realizar "A Guerra do Pente - O Dia Em Que Curitiba Explodiu" (exibido em pré-estréia na semana passada, lançamento oficial dia 29, na Cinemateca) demonstram bem a falta de fontes da memória curitibana. Durante os quase dois anos em que esteve envolvido nesta produção, Palito - como é conhecido o cineasta - buscou imagens filmadas que documentassem os conflitos ocorridos nas ruas e praças de Curitiba entre os dias 7 a 9 de dezembro de 1959.
Não encontrou um único fotograma e mesmo as únicas reproduções fotográficas que permitiram utilização foram publicadas na excelente cobertura que O Estado do Paraná, Tribuna do Paraná e "Última Hora", já com sua edição regional do Paraná, deram.
A televisão ainda não havia chegado a Curitiba - (o Canal 12, de Nagib Chede, somente seria inaugurado em 1960), mas é incrível que um fato de tamanha repercussão social não tivesse tido registro das então atuantes produtoras de cinejornais ou mesmo de algum cineasta amador. Para suprir a deficiência de imagens da época, Palito usou, engenhosamente, algumas poucas cenas de reprodução de um quebra-quebra, imagens paralisadas, além de ter dado um ótimo aproveitamento na criativa montagem (de Pedro Merege) com o material filmado por Aparecido Marques e Euclides Fantim, inclusive através do congelamento de imagens e alternação de seqüências em cores e preto-e-branco.
É importante ver "A Guerra do Pente" não como uma fita de pretensões históricas definitivas - inclusive porque há muitos fatos e dados confusos, aguardando pesquisas mais sólidas. É, entretanto, uma realização inteligente, com uma linguagem em que há os toques absolutamente pessoais do diretor-roteirista, e que, pela intensidade com que aparece em cena, acaba de se tornar ator.
Se não tivesse outros méritos- e ele os tem - este filme já valeria para comprovar o talento de Palito. Pena que como foi rodado em 16mm (e sua ampliação para 35mm custaria Cz$ 400 mil) não poderá participar do XV Festival de Cinema de Gramado, que inicia no próximo dia 7 de abril.
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