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Aramis

Noite curitibana não promove nossa música

Ao contrário do que ocorre em outras capitais - sem falar no eixo Rio-SãoPaulo, mas lembrando Porto Alegre como um bom exemplo, a vida noturna de Curitiba é anônima em sua gente. Longe vão os tempos em que empresários da noite como os saudosos João Pedro Guimarães, Paulo Wendt, "Paulista" e outros homens que movimentavam a noite da Capital nos anos 50 e 60 sabiam promover e valorizar as atrações de casas como Moulin Rouge, Marrocos, Jane 2, Tropical e tantos outros endereços, sobre os quais o jornalista Enock de Lima Pereira (o "Mauro" da "Grande Noite", coluna na TRIBUNA DO PARANÁ e o Luís Renato Ribas, o "Reinaldo Egas", que o antecedeu com o "Ecos da Noite") dedicavam deliciosas crônicas ao melhor estilo do que, no Rio de Janeiro, nas páginas da Última Hora, sabia fazer com poesia e humor o grande Antônio Maria. Aliás, a pedido da diretoria do Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de Curitiba, jornalista Mai Nascimento, Enock fez um pessoal texto sobre aquela época que entregue há mais de 10 meses, continua - inexplicavelmente - inédito, embora tivesse sido programado para a série "Leite Quente" - que também parece ter entrado no freezer. xxx Embora aumentasse o número de casas noturnas - incluindo restaurantes, night-clubes, danceterias etc. - há muitos anos que a imprensa diária deixou de dar cobertura a este setor, ao contrário do que faz, por exemplo, em Porto Alegre, o ativíssimo Danilo Uccha, que além de sua coluna na "Zero Hora" - um dos melhores jornais do país - criou também o "Jornal da Noite". Se de um lado não surgiram jornalistas da dimensão humana e boêmia - com a necessária honestidade pessoal - de Renatão - hoje saudades, e de Enock, aposentado e vivendo na tranquilidade familiar, também desapareceram aqueles homens da noite, como Wendt e outros que sabiam manter bons relacionamentos com a imprensa. Hoje, as casas noturnas pertencem a pessoas que em muitos casos temem aparecer, evitam explicar as origens de seus "patrimônios" e não tem interesse em estabelecer qualquer programa de divulgação e relações públicas - ficando apenas a espera de uma freguesia que, por óbvias razões econômicas também escasseia cada vez mais. Afinal, os anos dourados, com a prosperidade do ciclo do café trazendo os novos milionários do Norte e Nordeste a Curitiba, para noitadas históricas há muito já passou. O target que alguns empresários da noite, mais jovens, busca é o público jovem, capaz de lotar discotheques e danceterias, com o som mecânico do estridente rock/pop - levando ao precoce ensurdecimento os que ali frequentam. As casas com música ao vivo, com isntrumentistas harmônicos, abrem, fecham e funcionam praticamente esquecidas, sem que seus profissionais tenham a menor promoção. Bons músicos, cantores(as) de ótimo nível, eventualmente até compositores, trabalham por cachês miseráveis, em longas jornadas e raramente ganham uma notícia no jornal. xxx Quem chega de outras cidades - especialmente Porto Alegre - estranha esta ausência de maior divulgação de quem faz música na noite curitibana. Por exemplo, uma bela morena gaúcha, Yvethe Maya, cantora desde os 16 anos, quando em 1954 sua mãe e levou ao Clube do Guri, na Rádio Farroupilha (na qual, na época, começava também outra menina afinada chamada Elis Regina) está há seis meses fazendo temporada no Toscana - um dos muitos restaurantes dançantes de Santa Felicidade e embora elogiadíssima por seu repertório calcado basicamente na MPB - mas "atendendo à preferência do público" - continua tão desconhecida quanto aqui chegou. Em Porto Alegre, Yvethe era uma das mais prestigiadas cantoras junto não só as colunas de Danilo Uccha, mas também em outros espaços, por uma carreira que retomou em 1982 e que incluiu passagens por piano-bares como Vinícius, Opinião, Senzala, Carinhoso, Casa de Samba Evolução e por 5 anos no sofisticado Gruta Azul, da qual era atração há 5 anos - e de onde saiu, entusiasmada com o convite que Antônio Romano Zambono, do Toscana, lhe fez em julho do ano passado. Com muito espírito musical e de equipe, trabalhando com bons músicos da casa - Fábio (teclados), Ney (guitarra), Lourival (bateria), e Dentinho (baixo), Yvethe é uma cantora que merece ser ouvida. Aproveitando as férias de janeiro - no qual o Toscana passa a funcionar somente de quarta-feira a domingo, procura um piano-bar, de preferência em hotel, no qual possa mostrar seu repertório intimista. O grande sonho é completar a gravação de um elepê, iniciado há 3 anos mas que parou por falta de patrocínio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
14/01/1992

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