Xiquinho, chumbo e amor
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de setembro de 1991
Difícil imaginar Xiquinho - no registro civil Osmar Zimmerman - morto. O mais jovem dos irmãos, cabelos loiros - que lhe valeram, ainda criança, o apelido retirado do personagem das histórias em quadrinhos da revista "O Tico Tico", que trocaria o linotipo pela mesa de redação da equipe fundadora da "Tribuna do Paraná", na qual introduziu uma novidade para a metade dos anos 50: a diagramação. Aquilo que os associados trariam no "Diário do Paraná" - nascido em 29 de março de 1955 - Xiquinho faria, com as cores vermelhas e azuis, nas páginas do vespertino ao qual se dedicaria com amor e dedicação.
Conhecendo a área gráfica, ágil e criativo nas montagens da primeira página - após um curto estágio feito em outro jornal inovador, a "Última Hora" carioca - Xiquinho seria, ao lado de um jovem jornalista, João Félder (hoje o tranqüilo conselheiro do Tribunal de Contas) e de uma equipe igualmente idealista - e da qual o único sobrevivente ainda na redação da "Tribuna" é Rodrigo Marchesini de Freitas (este último de uma família de grandes jornalistas), o grande responsável pela liderança que o vespertino inaugurado em 17 de outubro de 1956 alcançaria em poucos meses - numa posição mantida até hoje.
Faltaria espaço para falar da criatividade de Xiquinho - que se revelou também um excelente fotógrafo. Era realmente um daqueles raros homens de sete instrumentos num jornal: bolava promoções, fotografava, diagramava e, se preciso fosse, descia à oficina para compor a página. Em mais de uma década ininterrupta no jornal, Xiquinho deixou estórias - geralmente bem humoradas, pois a alegria de viver era a constante de sua vida. Dividido entre o jornal, o futebol - chegou a jogar profissionalmente no Clube Atlético Paranaense e foi sempre um torcedor apaixonado - e a Curitiba dos anos 50/60, que ele tão bem conhecia.
Difícil, portanto, imaginar Xiquinho morto. Embora a biografia indique a idade de 61 anos, ele parecia beber todas as manhãs na fonte da eterna juventude. Trocando Curitiba por Cascavel em 1967, ali implantaria a sucursal de "O Estado do Paraná", faria carreira política - chegou a ser vereador e por pouco não foi prefeito - mas jamais deixou de ter espírito jornalístico.
Assim como com a morte de seu pai, o velho João e os irmãos Cid e Mozart, a imprensa paranaense perde agora mais do que um veterano. Desaparece um personagem, um profissional e, sobretudo, um amigo que "vivia" o jornal com uma dedicação e entusiasmo que, infelizmente, hoje parece ter desaparecido de nossas redações.
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