Das artes plásticas ao ciclista nova-iorquino
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1991
Embora seja impossível antecipar comentários maiores sobre os vídeos em competição - já que na hora em que enviávamos estas anotações - apenas 8 dos 25 em competição haviam sido apresentados - nota-se além de uma natural diversificação em suas temáticas, também o empenho de realizadores em buscarem cada vez mais um bom acabamento.
O jornalista e videasta Ismael Pinto, 33 anos, de Belém do Pará, por exemplo, em seu "Papelão Reciclado", mostra a forma com que o artista paraense Alexandre Siqueira faz na recuperação de materiais de lixo para fazer os seus trabalhos. Em 11 minutos, este vídeo que teve menção honrosa no 14º Guarnicê de Cine-Vídeo do Maranhão "pela forma não convencional de mostrar artes plásticas", documenta a fragmentação do artista, que nesta busca também se divide, e as vezes não tem respostas para perguntas óbvias. Explica Ismaelino Pinto:
- "De uma forma não linear talvez tenhamos encontrado a resposta. Pode ser que ela esteja na emoção de cada espectador que vê este trabalho".
O mesmo Ismaelino Pinto é também o diretor de "Laura & Rohit - 10 Anos Depois", 8 minutos, em que também focaliza artistas plásticos. Laura Mahon e Antar Rohit são irmãos e ficaram separados durante dez anos. Uma década depois em que buscaram outros caminhos reencontram-se num projeto "Entre as Imagens e as Cores das Pinturas". Este vídeo teve o prêmio especial no 14º Guarnicê de Cine-Vídeo do Maranhão, em setembro, e pode sair novamente premiado de Vitória.
Música e Vídeos - De Brasília, vieram dois vídeos também com boas possibilidades de premiação - "Cintas Largas", de Sérgio Moriconi, sobre uma das músicas da banda Akneton, liderada por Celso Araújo e "Paranpná", de Yanko del Pinto e Eduardo Prandes.
Os cariocas Leonardo Guelman e Neimyr Guaycurus, que no FestMaringá levaram um documentário sobre a reconstrução da Praça da República, em Niterói, trouxeram agora um misto de ficção e documentário, "Fabiana, eu te Amo", exibido na sexta-feira. Já "O Assalto", de César Chaia, de Salvador, é um dos trabalhos de aspecto social que integraram a representação do Espírito Santo. Reproduzindo um assalto ocorrido em setembro de 1988, num supermercado de Vitória, o vídeo, em seus 11 minutos e meio, retrata "a paranóia que acomete as pessoas, numa sociedade cada vez mais assombrada com a criminalidade sempre crescente e com enorme contingente de menores abandonados", explica Chaia, que desenvolveu o seu projeto em forma de vídeo-laboratório, realizado com amadores e limitados recursos.
Há até vídeos gravados no Exterior. É o caso de "Red Yellow", que André e Frederico Pinto rodaram nas ruas do Brooklyn Heighis, próximo a estação do metrô Day Street, em Nova Iorque. André Queiroz Alves Pinto, mineiro, 29 anos, geógrafo e cinegrafista da TV Abril / MTV, estudou em Nova Iorque e Paris e, quando na Big Apple, com apenas US$ 200 rodou um filme sobre "um ciclista solitário, descontente com o ambiente cinzento e de concreto que o envolve, que redescobre no valor visceral das cores, motivação para continuar seu caminho". O projeto esteve associado ao carioca Frederico Alves Pinto Teixeira, 23 anos, artista plástico que há 4 anos mora em Nova Iorque, aluno do The Art Student League of NY.
Outros Vídeos em Competição - Também participam do FestVitória os seguintes vídeos, que comentaremos na próxima semana: "Índia" e "Morte", do mineiro Bruno Vianna; "Um Dia de Baixo", do capixaba Clóvis Mendes; "Eu...", da carioca Shirley Costa; e "Paranapiaçaba", da paulista Ana Maria Escalada.
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