Dificuldades editoriais
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de março de 1975
O professor Júlio Moreira já tem em casa os primeiros exemplares recém saídos da Imprensa Oficial do Estado - de seu livro (em três volumes) "História dos caminhos das Comarcas de Paranaguá e Curitiba".
Hoje ou amanhã, acompanhado do secretário Osires Stenghel Guimarães, dos Transportes, vai entregar a obra ao governador, no Palácio Iguaçu. De lá, irá à residência de dona Egipcialinda Velloso de Souza, viuva do ex-governador Pedro Viriato Parigot de Souza, para fazer-lhe, igualmente, entrega da obra. Quer, desta maneira, mostrar a ex-Primeira Dama do Estado, que foi graças a visão de seu marido, que o livro pode afinal ganhar sua edição. E a edição desta obra fundamental para a bibliografia paranaesnse, realmente tem uma novela que dá bem dimensão da desatenção dos órgãos públicos do Estado para com os nossos pesquisadores.
Fruto de mais de 20 anos de pesquisa - e no mínimo cinco de redação final, a "Historia dos caminhos das Comarcas de Paranaguá e Curitiba", abrange um completo levantamento de todos os caminhos abertos a partir da chegada dos primeiros portugueses ao Paraná, até1853, quando foi instalada a Província. O professor Júlio Moreira limitou sua pesquisa neste período por acreditar que a partir da administração do baiano Zacarias de Góes de Vasconcelos (1815-1877), devem existir relatórios oficiais, onde pode ser levantado com facilidade a evolução na abertura de vias de comunicação em nosso Estado. Preferiu, assim, pesquisar quase três séculos anteriores, praticamente sem qualquer documentação e num trabalho idealista, onde investiu além de seu esforço pessoal, inclusive seus magros salários de mestre aposentado da sexagenária Universidade Federal. Pagou, de seu próprio bolso, o trabalho de datilografia dos originais e teve nisto a ajuda, gratuita, também da jornalista Rosy de Sá Cardoso. Entretanto, para conseguir a edição de seu livro, o professor Júlio foi obrigado a percorrer muitos atapetados gabinetes oficiais, esperar horas em salas de espera, até que enfim foi compreendida a importância de seu trabalho - uma obra de consulta obrigatória a quem se interessa pela história e sociologia do Paraná. Se o professor Júlio Moreira, 75 anos, mais de 20 livros editados (à maioria com seus próprios recursos), curriculum ilustre e, sem duvida o mais admirado historiador do estado, teve - e tem dificuldades para ver transformada em letras de forma os seus manuscritos, imagina-se o que acontece com os jovens - e ainda desconhecidos - pesquisadores. Isso explica a pobreza de nossa documentação, com tantos freteis campos a serem pesquisados e divulgados, justificando-se o máximo incentivo ao trabalho que se possa fazer no sentido de editar opúsculos, folhetos e livros (como Valêncio Xavier vem coordenando através dos Boletins da Fundação Cultural de Curitiba). A professora Maria Nicolas, 74 anos, mestre de várias gerações autora da única história parlamentar do estado (obra que a Assembléia Legislativa tem a obrigação de reeditar, atualizando-a naturalmente), tem pronto um levantamento completo de todos os patronos dos logradouros e ruas da cidade. O primeiro volume de "Alma das Ruas", em papel jornal, numa pobre edição, foi publicada em 1969, quando era prefeito de Curitiba o engenheiro Omar Sabbag. Agora, dona Maria Nicolas - uma das figuras humanas de maior respeito e admiração desta cidade - deseja ver publicados os novos volumes e, neste seu idealistico empreendimento, já chegou a pensar até em conseguir apoio dos comerciantes das principais ruas citadas em seu livro, para arcar com o custo da edição. Isso depois de ter perguntado pelo custo do livro - Cr$ 30 mil e, feitas as contas, concluir que com seus salários de mestre aposentada do Estado, não poder cobrir tal despesa.
LEGENDA FOTO 1 - Júlio.
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