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Aramis

Depois que eu me chamar saudade

Triste mas absolutamente verdadeiro: a professora Maria Nicolas, 75 anos, mestre de várias gerações, uma das personalidades mais admiráveis desta nossa cidade, foi obrigada recorrer às suas econômicas para pagar a primeira prestação do custo de impressão de seu novo livro. "Pionteiras Paranaenses" e, assinar doze promissória - comprometendo seus magros vencimentos de professora aposentada, para saltar o restante do débito. Não é de hoje que insistimos em denunciar a falta de respeito e sensibilidade dos donos da cultura local em torno do esforço que dona Maria Nicolas, faz, absolutamente sem qualquer estímulo, para publicar as suas pesquisas. Só em 1969, encontrou por parte do então prefeito Omar Sabbag ajuda para editar o primeiro volume de "Alma das Ruas", importante Livro de referência sobre quem foram os patronos das ruas, avenidas e praças de Curitiba. Os outros dois volumes continuam inéditos, embora a velha mestra tenha se cansado de percorrer os atapetados corredores do órgão culturais, que, insensível a esta obra da maior importância para a nossa história, não recusam a editar publicações absolutamente supérfluas ou financiar discutíveis promoções, sem qualquer resultados prático para a nossa vida cultural - servindo, apenas para justificar badalativos coquetéis e recepções. Há dois anos, quando se comemorava o ano internacional da Mulher, dona Maria Nicolas se dispôs a fazer uma pesquisa sobre as mulheres que no Paraná, foram pioneiras em vários campos de trabalho: ensino, medicinal, engenharia, jornalismo, indústria etc: Organizada e entusiástica em seu trabalho, a sra. Maria Nicolas trabalhou arduamente para levantar as informações e escrever o livro. Com os originais debaixo do braço, fez a via sacra nas repartições oficiais - que embora com orçamentos gordos e, nos últimos anos, reforçados por dotações do Ministério da Educação e Cultura, através da FUNARTE, não tiveram entretanto, a menor atenção para com o seu trabalho. Pessoa simples e humilde, decidiu editar por sua própria conta o livro - mas, para isso, comprometendo seus magros recursos. Um exemplo de idealismo, que só se encontra em pessoa de sua geração e que serve, mais uma vez, para provar que embora, promocionalmente, se fale muito em "atividades culturais" oficiais, a realidade é bem outra. Ao contrário de dona Maria Nicolas, outros pesquisadores e escritores simplesmente desistiram de prosseguir seus projetos pela total ausência de estilo, na área editorial. Maria Nicolas, raro exemplo insiste: nos últimos 20 anos, publicou mais de 10 livros - entre pesquisa histórica, poesia, memórias e peças de teatro infantil. Raras - raríssimas - vezes teve ajuda oficial, quase sempre pagando as edições com seus minguados salários de aposentada. Autora do único levantamento da história política do Paraná ("Cem Anos de Vida Parlamentar", 1954), gostaria de poder atender as centenas de escolares que a procuram, pedindo a obra, há anos esgotada. Mas também a Assembléia Legislativa, apesar de ter recebido sugestões a respeito, não teve a menor preocupação em reeditar esta obra - o que poderia ser feito em sua própria gráfica, a baixo custo. Cabelos brancos, a pesquisa e, ainda, a pintar belos quadros primitivos por críticos nacionais. Esperamos que ela viva ainda muitos anos - feliz e tranqüilamente, o suficiente para - oh! - encontrar pessoas dirigindo entidades que sensibilizem-se com os seus esforços e a auxiliem a publicar suas pesquisas. Pois de nada adiantarão as homenagens póstumas, discursos e citações, quando - o que esperamos, repetimos, demore muitos anos - ela nos deixa. "Mas depois que o tempo passar Sei que ninguém vai se lembrar Que eu fui embora Por isso é que eu penso assim Se alguém quiser fazer por mim Que faça agora Me dê as flores em vida O carinho, a mão amiga Para aliviar meus ais Depois que eu me chamar saudade Não preciso de vaidade Quero preces e nada mais." A curitibana Fátima Freire novamente nas páginas da revista "Sétimo Céu" (Bloch Editores, n.º 254, Cr$ 8,00, edição de maio/77). É a principal intérprete da fotonovela "Obsessão Fatal", contracenando com Carlos mossi (ator lançado em "Copacabana Me Engana", hoje produtor de pornochanchadas), Mirian Rio e Geraldo Gonzaga. A estória (de Wanneida Costa) é sem imaginação, mas Fátima - que é filha do cientista Newton Freire Maia, e que começou sua carreira fazendo teatro e televisão em Curitiba - aparece de forma bastante interessante. Ter em apenas 4 anos de carreira um terceiro elepê editado, simultaneamente em 49 países é recorde que mesmo Frank Sinatra não atingiu. Pois é o que acontece com o idish-brasileiro Moris Albert (Maurício Alberto Kaisermann, 35 anos), que terá o seu terceiro lp - "Love and Life", gravado em dezembro último, nos estúdios da RCA em Los Angeles, lançado em junho no Brasil e mais 48 países, simultaneamente. Albert já trouxe mais de US$ 5 milhões de dólares para o Brasil - sendo, assim considerável não musicalmente, mas em termos de economia. Por razões semelhantes, os Beatles receberam os títulos de Sir, há mais de 10 anos - e se Albert ganhar a Ordem do Cruzeiro do Sul, não se surpreendam. A Beverly-Copacabana, gravadora nacional que tem Albert sob contrato, conseguiu graças a ele, praticamente equilibrar suas finanças e acorajar-se a grandes investimentos. Há 2 anos, foi anunciada a vinda de Morris a Curitiba: na última hora, foi cancelado o ahow. E, hoje, dificilmente ele se apresenta no Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
21/05/1977

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