As divertidas estórias de Marcos vasconcellos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de outubro de 1983
O arquiteto Marcos Vasconcellos é um renomeado contador de estórias bem humoradas. Tão boas que, por insistência de seus amigos de Ipanema e adjacência, decidiu publicar algumas no << Pasquim >>, dentro de uma série intitulada << Pequenas Vergonhas >>. Mas há tantas estórias, que Marcos acabou selecionando 300 delas para um livro que o L&PM, de Porto alegre, lançou há poucas semanas, com grande sucesso. Destas, algumas irresistíveis de serem transcritas.
<< Nossos cineastas Fernando Amaral chegando a Los Angeles para um a permanência de poucos dias, telefonou para o escritório do colega Stanley Kubrick (Dr, Fantástico, Odisséia no espaço, spartacus, Lolita, etc). Queria conhecer o famoso diretor e conversar coisas de cinema. esbarrou num fechadíssimo sistema de proteção à privacidade de Kubrik, A audiência teria que ser marcada com semanas de antecedência, quem era, o que queria, de onde vinha qual o assunto. Está viajando, só daqui a dois meses. Em suma, maior dificuldade.
Fernando, com a clareza dos puros, pega a lista telefônica da cidade e procura lá: Kramer, Kojak, Kubitschek, Kubrak, Lubrik stanley. Telefonou, atendeu, voz de homem. Fernando arrisca:
_ Queria falar com - mr. Kubrik. Aqui é um cineasta brasileiro.
A voz:
- Sou eu mesmo. Aqueles caras do escritório são uns chatos. Venha cá.
São amigos até hoje >>
<< Duas senhoras, daquelas de olhar sempre maravilhado, aproximaram-se do paisagista Roberto Burle Marx, meio aos intróitos de um banquete. Por intrometimento, certas pessoas, arrogando-se intimidade, tratam personalidades pelos menos conhecido, ignorando a parte mais forte, Antônio Galloty é Tony, Oscar Niemeyer é Oscar, o embaixador Nascimento Silva é Gonzaga, Antônio Carlos de Almeida Braga é Braguinha, Ziraldo é Nega Zira, por aí.
Uma das referidas madames, com gestos langorosos, voz anasalada, com uma afetação melosa, esticando as vogais, disse a Burle Marx:
- Roberto, você sabe que minhas plantas adoram ópera? Mas preferem a << Flauta Mágica >>, não se dão bem, com as italianas. Crescem que é uma coisa...
- Pois as minhas preferem Brahms - disse a outra com o mesmo tom e feito - principalmente o ciclo Magelone. e as suas, Roberto?
Burle Marx:
- As minhas preferem bosta.
Estya Paulo Mendes Campos nos havia contado num jantar no Humel-Humel, depois de sua participação nas << Parcerias >>. Mas aqui vai, na descrição feita por Marcos Vasconcellos:
<< O avião faz um pouso técnico em Lisboa que duraria umas três horas. Dois passageiros do vôo, Millôr Fernandes e Paulinho Mendes campos, resolveram aproveitar o tempo para dar uma volta pela cidade e para isso perguntaram a um polícial qual o procedimento legal.
- Há duas maneiras - respondeu o gajo. A primeira, os senhores entram naquela bicha (fila), carimbam os passaportes, assinam uns papéis e, na volta, mais um carimbo, mais uns papéis.
- e a segunda. Saiam e retornem por aquele portão. >>
<< Outra de nosso avozinho d`além-mar: no noticiário de um canal de TV portuguesa, espécie de Jornal Nacional da Globo, um locutor seríssimo entrevistava um cidadão igualmente seríssimo:
- O senhor viu o acidente?
- Não, senhor. Soube dele através de terceiros.
- O senhor estava no local do acidente?
- Não, senhor. Eu me encontrava em outro sítio.
- O senhor conhecia as vítimas?
- Não, senhor. Jamais as tinhas visto. Dando-se por satisfeito, o entrevistador voltou-se para o público espectador e afiançou gravemente:
- A testemunha ocular do fato não presenciou o fato >>.
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