Dos brasileiros, Bach e sinfonias de Tchaikovsky
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de julho de 1988
Maurício Quadrio, produtor de projetos especiais e a quem se deve o que de melhor se tem editado, na área erudita e jazz no Brasil, defende a tese de que sempre que é possível fazer um elepê de música clássica no Brasil deve se procurar registrar nossos autores. Infelizmente, nem todos pensam assim e o maestro Cláudio Santoro, da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília montou um programa que inclui Edward Elga ("Pompa e circustância", agora mais conhecida por ter sido incluída na belíssima trilha do filme "Esperança e Glória"), Dvorak, Strauss, Franz Von Suppe e Brahms no elepê gravado ao vivo e que o Estúdio Eldorado está distribuindo.
Isto, entretanto, não desmerece a importância desta gravação, pois Santoro também soube mesclar com bons autores brasileiros. Por Exemplo, o batuque "Dança de Negros" da suíte "Reisado do Pasteio" de Oscar Lorenzo Fernandes; a sempre agradável toccata "O Trenzinho do Caipira" da Bachiana nº 2 de Villa-Lobos, além de uma composição do próprio Santoro, "Canto de amor e paz".
Já o recitalista Nelson Freire, considerado um dos mais completos pianistas brasileiros, gravou mais algumas peças de Chopin - dos quais é hoje um dos grandes intérpretes no mundo, para uma produção originalmente patrocinada pelo Banco Holandês Unido, mas que agora Lauro Henrique Alves Pinto, da L'Art, está lançando comercialmente.
Outro pianista, este ainda jovem e pouco conhecido, Luiz Antonio Bevilácqua, filho da presidente da Academia Internacional de Música, Sr.a Luiza Belivácqua, fez um álbum independente, no qual se deu o direito de interpretar exclusivamente suas próprias composições. Além de compositor, pianista, Luiz Antonio é também pintor - e na contracapa, em cores, reproduções de cinco de seus trabalhos, dentro do tema "As Musas" - com uma visão de sensualidade. Compositor desde os 12 anos, com uma carreira que vem se solidificando, o disco de Luiz Antonio Belilácqua vale ao menos como registro e marco para divulgação de seu trabalho.
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Passemos agora a lançamentos de música clássica, em termos internacionais. A cada vez mais conhecida Academia de St. Martin-In-The Fields, regida por Neville Marriner e que tem um bom público no Brasil, a julgar pela regularidade com que suas (esplêndidas) gravações têm sido aqui editadas, está com um álbum no qual apresenta uma das mais belas peças de Johann Sebastian Bach (1685-1750) - "A oferenda musical", que compôs em maio de 1747, em homenagem ao rei Frederico II, da Prússia, que o convidou para ser organista da corte. Lothar Hoffman-Erbrecht sintetiza que esta peça é de "uma prodigialidade tipicamente barroca" e os seus diversos movimentos fazem parte das últimas obras de Bach caracterizadas por uma polifonia austera, estrita e com uma densidade inusitada.
A Academia de St. Martin-In-The Fields é formada por três violinos (Iona Brown, Malcolm Latchem e Roger Garland), viola (Stephen Shingles), violoncelo (Denis Vigay), flauta (William Bennett) e órgão/cravo (Nicholas Kramen).
A CBS completa o ciclo das Sinfonias de Piotr Ilytch Tchaikovsky (1840-1893) nas interpretações da Sinfônica de Chicago, sob regência de Cláudio Abbado, editando a Sinfonia nº 5, opus 64 e a Sinfonia nº 6, em Si Menor - a "Patética". Nas duas gravações, há complementos: no disco da Sinfonia nº 5, a balada sinfônica "Voyevode", opus 78, encerra o lado A. Já complementando o lado B do disco, que traz a "Patética", temos a "Marcha Eslava", opus 31. Escrita entre fevereiro e agosto de 1893, "Patética" foi a sexta e última sinfonia do grande autor russo.
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