Duelo (verbal) no palco
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de agosto de 1988
Se o júri do troféu Gralha Azul já tivesse sido designado e houvesse tido a oportunidade de assistir o inesperado e surpreendente "happening" que aconteceu na fria tarde de quarta-feira, 27 de julho, no grande auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, por certo premiaria seus intérpretes na cetegoria da espontaneidade/sinceridade.
Se houvesse uma câmara de vídeo para registrar o que ali aconteceu, teria-se um precioso - e hilariante - documento sobre como andam as relações entre a classe teatral em Curitiba.
No mínimo, o que algumas pessoas que se encontravam no teatro Guaíra viram/ ouviram, há uma semana - numa performance única e exclusiva - entra para o repertório folclórico do teatro paranaense.
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No imenso palco do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto cruzaram-se duas das mais conhecidas pessoas que há quase quatro décadas fazem teatro do Paraná. De um lado, uma senhora que há anos lidera o movimento pela sindicalização dos artistas, com atuação que há anos tem sido mais política do que sua presença em palcos. De outro, um dos raros - senão o único - profissional que desde o final dos anos 60 vive apenas de suas atividades artísticas. homem que costuma dizer o que pensa e tem uma posição independente e crítica.
Houve um cumprimento frio. Seguiu-se, da parte da senhora, um comentário que chegou aos ouvidos do veterano ator como um raio num depósito de nitroglicerina. Resultado: o que se seguiu - e há testemunhas - foi um diálogo que nem Plínio Marcos e Nelson Rodrigues, juntos e em momentos de maior inspiração escatológica, conseguiram produzir.
Palavrões, acusações, desaforos, xingações. Acusações de parte a parte, por pouco que não houve agressões físicas.
Os gritos no palco - com toda acústica do teatro, fazendo reverberá-los no imenso espaço, atraíram espectadores. Todos assistiram, por vários minutos um bangue-bangue verbal, no qual parecia estar em ação uma superlavanderia de roupa suja de nossa vida cênica.
Depois, entre mortos e feridos, cada um seguiu o seu caminho.
Nas poltronas, os que assistiram - e só faltaram aplaudir - a performance. O pano não foi rápido no encerramento deste primeiro ato.
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