Em duas décadas, roteiro equilibrado e de trabalho
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de maio de 1989
Três bailarinas - duas delas afastadas dos palcos - estavam particularmente emocionadas na noite de sábado: Aline Jambay e Maria Jacira Amaral foram duas das nove jovens que, nas noites de 12 a 14 de setembro de 1969, participaram da primeira temporada do então Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra. As primeiras apresentações do Corpo estável, que teve o curitibano Ceme Jambay como seu primeiro maitrê (função na qual permaneceria por dois anos), foram com um programa diversificado - "Concerto Abstrato", sobre música de Stolzelzel, "Impactos" e os "pas-de-trois" (música de Helsted) e "pas-de-deux" (dançado pelo próprio Ceme e Jacira Amaral), encerrando com um diverssement, "Os Patinadores" (música de Meilber), que reunia toda a companhia: Adeline Moriz, Cecy Chaves, Carlos Carone, Aline Jambay, Jacira Amaral, Gleisy Maria, João Deonísio, Raquel Caetano e Maria Helena Gomes.
Nestes 20 anos, mais de 100 bailarinas(os) passaram pela companhia - cuja designação para Ballet Guaíra acontecia em 1979, ano em que Carlos Triencheiras, vindo de Lisboa, um belo curriculum, assumiu sua direção e marcou uma nova fase profissional. Anteriormente, sucessivamente, ali estiveram Jambay, Yara de Cunto (coreógrafa já no primeiro espetáculo), Yurek Shabelewski, Hugo Dellavale e Eric Waldo.
Destes, Ceme, Hugo e Eric estiveram no Guaíra, sábado à noite, para receberem homenagens. O octogenário Yurek Shabelewski, um nome que teve seu período de glória na dança, inclusive na União Soviética, não teve condições de comparecer: doente, foi representado pela ex-bailarina Maria Jacira Amaral. Eric, há 15 anos radicado no Rio, veio especialmente para a festa - que teve mais do que um toque de nostalgia, a emoção de rever velhos amigos(as), num período importante para a formação de um grupo, hoje com 41 integrantes e que, apesar dos descalabros culturais do Paraná, conseguiu um espaço nacional.
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Ana Emília Silvia, que era estagiária quando da criação do Corpo de Baile - e que entraria no lugar de Aline Jambay, quando ela deixou o grupo - também mereceria ter uma homenagem especial. Afinal, há 20 anos integra a companhia - da qual hoje, merecidamente, é a segunda bailarina, tendo um curriculum marcante, com grandes momentos como solista, como em "Da Vida e Morte de uma Mulher Só...", há alguns anos.
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No último ano da administração Paulo Pimentel, voltada ao estímulo das atividades culturais, Otávio Ferreira do Amaral Neto - que por sete anos fez a melhor direção, conseguiu não só transformar a antiga Superintendência numa Fundação, concebida para ter autonomia e dinamismo (hoje prejudicada por sucessivas "reformulações") e estruturou o Corpo de Baile, dando início a profissionalização efetiva dos antigos integrantes do Curso de Danças Clássicas. Assim, sem diminuir os esforços de alguns dos administradores que o substituíram (outros, infelizmente, tudo fizeram para prejudicar a área da dança), deve-se a Otávio os méritos de ter sido o primeiro a sentir a importância do Paraná possuir uma companhia oficial.
Hoje dedicando-se apenas à advocacia e ao setor empresarial, aposentado do Estado, Otávio raramente freqüenta o Guaíra, mas atendendo ao convite de seu velho amigo Joel de Oliveira (atual diretor administrativo), ali esteve, no sábado, para assistir a encenação de "O Grande Circo Místico" e, posteriormente, no coquetel realizado no Círculo Militar, ser abraçado e cumprimentado por todos que sabem de sua contribuição real à nossa vida cultural.
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Durante os próximos meses, dentro das comemorações de seu 20º aniversário, o Ballet Guaíra deverá fazer outras montagens - numa agenda que cuidadosamente está sendo preparada pelo próprio superintendente da Fundação Teatro Guaíra, Constantino Viaro. Já há, inclusive, proposta da direção do Memorial da América Latina, para temporada de "O Grande Circo Místico", um espetáculo para todas as estações, para todos os públicos - um link capaz de fazer aquilo que constituía, em 1969, a filosofia com que o Corpo de Baile foi criado: levar a todos os segmentos a arte da dança.
LEGENDA FOTO 1 - Ana Emília, 20 anos de ballet.
LEGENDA FOTO 2 - Rita Barreto, de muleta, numa performance inesperada, com toques de protesto por salários baixos.
LEGENDA FOTO 3 - Eleonora, no palco até com os filhos.
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