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Empresários do Paraná ainda fogem da cultura

Uma demonstração clara da falta de sensibilidade do empresariado paranaense em relação a aplicações na área cultural está na própria Fundação Cultural de Curitiba. Ingenuamente, há 15 anos, o então prefeito Jaime Lerner ao idealizar a criação da FCC, imaginava que haveria - a exemplo do que acontece na Europa e, especialmente, Estados Unidos (e que no Brasil, no eixo Rio-São Paulo-Belo Horizonte começa a existir), participação da iniciativa privada. Engano total! Durante seus dez primeiros anos, praticamente a FCC não teve uma única contribuição vinda da iniciativa privada para os seus projetos e, nos últimos três anos, somadas todas as doações, observa-se que o total fica apenas ao redor de Cz$ 120 mil - ainda assim, atualizando-se dados que obtivemos em julho último, quando aqui já comentamos este fato ("Talvez com a Lei Sarney apareçam nossos mecenas", O Estado do Paraná, 20/6/86). Mesmo fazendo-se a correção monetária e considerando a inflação até fevereiro/86, não deixa de ser uma contribuição ínfima para uma instituição que hoje tem 330 funcionários e administra mais de 40 unidades (só em prédios próprios, 22), com um orçamento previsto para 1986 de Cz$ 16.000.000,00 - que, nestas alturas já deve necessitar de reforço, haja visto que sua inchada folha de pessoal consome quase 90% dos recursos. Nos cinco primeiros meses de 1986, a FCC teve doações no valor de Cz$ 66.000,00, dos quais Cz$ 17 mil destinados ao Coral (Bamerindus colaborou com Cz$ 15 mil; Arte e Talento - loja de pianos, com Cz$ 3 mil; Auto Motor com Cz$ 2.000,00 e Citiplast com Cz$ 1.000,00). Agora, a diretoria da Fundação está buscando novos recursos para projetos a acontecerem até dezembro, inclusive o Salão da Gravura, que teve a Philip Morris, nos tempos de vacas gordas (antes das indústrias de cigarros cortarem suas verbas de publicidade e relações públicas) ajuda de Cz$ 30 mil. xxx Durante alguns anos, em conseqüência do patrocínio dos informativos da Rádio Jornal do Brasil o Bamerindus garantia a edição dos importantíssimos discos-documento com uma síntese em um elepê, dos fatos mais importantes do ano, ilustrada com as vozes dos personagens. Infelizmente, há 10 anos este programa foi interrompido e, como conseqüência, a Rádio JB também deixou de editar os discos, que no período 1963/1976, sintetizou a história do Brasil e do mundo, em registros dos mais importantes. Quem possui uma coleção completa destes discos tem, sem dúvida, em mãos um mini Museu da Imagem e do Som em termos de história contemporânea. Lamentável que como eram discos-brindes, distribuídos a "clientes e amigos", historiadores, jornalistas, pesquisadores (realmente interessados nesta documentação) ficavam sem recebê-los. Em compensação, centenas dos agraciados nunca deram devido valor a estes discos que, de vez em quando, aparecem nos sebos. xxx Projetos culturais não faltam. Nos últimos anos, as grandes empresas passaram a investir nas edições de livros de arte, discos, exposições e mesmo projetos maiores - como restauração de prédios e sítios históricos, grandes programas (como IBM e Crefisul, entre outras). Apesar de toda a crise econômica no período 1981/85, cresceu o número de discos e livros que, independendo de retorno comercial, resgatam aspectos importantes de nossa cultura. Só o crítico Jacob Clintowicz, do Jornal da Tarde, realizou já uma dezena de excelentes livros de arte, em edições (como da Volkswagen) que divulgam nossa arte em todo mundo. Para 1986 se prevê, em conseqüência da euforia do Plano Cruzado, mais de 500 produtos culturais a serem distribuídos, já a partir de outubro, especialmente na área da música, literatura e artes plásticas. Enquanto empresas como a Norberto Odebrecht, de Salvador, sabe investir mais de um milhão em trabalhos como "Caymmi, som, imagem, magia", no Paraná, até hoje desconhece-se qualquer iniciativa de um grupo empresarial em patrocinar a edição de um livro, disco ou obra de arte. No máximo, míseras (e muitas vezes ridículas) contribuições (arrancadas em doloridos partos, que esgotam a paciência de quem se disponha a mendigar apoio) para publicidade na televisão de espetáculos apresentados nos auditórios do Teatro Guaíra - e que afinal são apenas comerciais dos patrocinadores. Mesmo empresários que alimentam sonhos políticos, como José Carlos de Carvalho, do grupo Corujão - e candidato a suplente de senador na chapa do ex-governador José Richa - não entenderam, até hoje, que muito melhor do que alimentar o Leão da receita Federal seria possibilitar o desenvolvimento de projetos culturais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
30/09/1986

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