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Aramis

Encontro do vídeo e cinema independente

Fernando Gabeira será o mais famoso dos convidados para o I Encontro de Cinema e Vídeo Independente (auditório do Senac, 4 a 6 de junho, inscrições a Cz$ 300,00). Entretanto, a intenção de seus organizadores não é reunir superstars. Explica a cineasta Berenice Mendes: - "Queremos discutir a questão da produção do cinema e televisão independente, fora dos grandes esquemas. Levantar questões e buscar soluções." Lu Rufallo, produtora executiva de vários filmes rodados no Paraná, atuante vice-presidente da Assiociação Brasileira de Documentaristas e Paranaenses de Cineastas, é objetiva: - "Achamos que as coisas estão paradas demais. O Fundo Municipal de Cinema, embora criado por lei, até hoje não foi regulamentado e não trouxe benefícios aos realizadores do cinema paranaense." Na Secretaria de Cultura, a ladainha é sempre a mesma: não há verbas, não temos recursos, não há viabilização possível... Mulher decidida, sem papas na língua, Lu Rufallo acha que há necessidade de uma sacudida na cinematografia local. Está cansada de negativas, de ver sompre o mesmo aproveitador-mór do cinema paranaense levar todas as vantagens enquanto uma nova geração de realizadores faz das tripas coração para poder realizar seus filmes. Fernanda Morini, assistente de produção, identificada ao pensamento de Berenice e Lu, acrescenta: - "Buscamos o SESC para realizar este encontro, justamente para haver maior independência. Queremos que seja um encontro positivo, sem o blá-blá oficialesco, de promoção dos sempre eternos donos do poder: mudam os homens, continua a situação sempre prejudicial aos que de fato realizam - ou tentam realizar - cinema no Paraná." xxx A abertura do Encontro será, naturalmente, com convidados oficiais. Representantes dos organismos que, a rigor, devem se preocupar com a cultura e dar condições de que se realize algo de prático. Entretanto, o decorrer do mesmo será independente. O primeiro palestrista será Goulart de Andrade, produtor e apresentador do "Plantão da Madrugada" (Tvs Iguaçu/ madrugada de sábado), que com seu jornalismo quente e atualíssimo sacudiu o marasmo no vídeo e hoje é um dos campeões de audiência da Rede Silvio Santos. Berenice fala com entusiasmo do trabalho de Goulart: - "Ele foi um dos primeiros a apoiar o trabalho de realizadores independentes de vídeo e o seu próprio jornalismo é uma prova de agilidade e energia dos independentes. Portanto, nada mais natural que venha a falar sobre a "produção independente e seu espaço de veiculação". De Porto Alegre, virá Henrique de Freitas Lima, cineasta e representante dos produtores de cinema no CONCINE. Realizador de alguns curtas - inclusive "Obscenidades", baseado em um conto de Ignácio de Loyola, bem recebido no XV Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, Henrique de Freitas Lima vai mostrar de como os cineastas gaúchos estão conseguindo superar os problemas e implantar um ativo núcleo de produção regional. Os filmes gaúchos tem melhorado de ano para ano, e tanto em curtas como em longas (ainda agora, Werner Schunemann completa "O Mentiroso", que deve ficar pronto a tempo de concorrer no festival de Fortaleza), o Rio Grande do Sul se firma como um pólo cinematográfico. A última vitória da categoria foi a criação do Instituto Estadual de Cinema, reunindo equipamento em super 8, 16mm, 35mm e vídeo que estava disperso em várias secretarias e companhias estatais, sem utilização. Uma idéia que foi levada ao jornalista Fábio Campana, secretário da Comunicação Social do Paraná, para ser aplicada também no Paraná. Afinal, enquanto os nossos realizadores enfrentam as maiores dificuldades para realizar seus filmes, a Acarpa, Banestado, Prefeitura e várias secretarias possuem ótimo material cinematográfico, praticamente sem utilização - ou com grande capacidade ociosa. Questões como estas serão debatidas pelos realizadores paranaenses. Outro ponto também a ser levantado: a utilização da moviola em 35mm, adquirida no ano passado, graças ao empenho da ex-secretaria da Cultura, Suzana Munhoz da Rocha Guimarães, e que para ser instalada no Museu da Imagem e do Som apresenta um problema prático: simplesmente não há espaço naquele prédio adquirido na administração José Richa. Aliás, o caso da sede do MIS-PR é tema para uma boa denúncia de espera de quem se disponha a fazer: foi adquirido um velho casarão (sabe-se lá em que condições econômicas?) que, agora, se revela, inviável para as finalidades do Museu. E, entre outras batatas quentes, o advogado Renê Dotti tem mais essa: encontrar um novo e apropriado endereço em que o MIS possa realmente funcionar. xxx Voltemos ao Encontro de Cinema e Vídeo Independente. Roberto Salattine, sócio da produtora paulista Olhar Eletrônico (que fez inúmeros trabalhos políticos no Paraná) e representante dos realizadores de vídeo no CONCINE, falará (dia 5, 20 horas), sobre a Criação, Produção e Legislação de Vídeo. Antes, na mesma sexta-feira, Fernando Gabeira, que além de escritor e político (foi candidato pelo Partido Verde ao Governo do Rio de Janeiro), é também realizador de vídeos jornalísticos (chegou a apresentar um programa numa televisão do Rio) abordará "A Sociedade, a Comunicação e a Constituinte". Os diferentes aspectos da Lei Sarney, a reformulação da Embrafilmes, a organização da classe e, especialmente, a política de produção em cinema e vídeo no Paraná estarão sendo debatidas no sábado, 6. xxx Basicamente, o I Encontro de Cinema e Vídeo Independente será de profissionais da classe. Assim, não haverá preocupação em exibições competitivas. Entretanto, haverá espaço para que os interessados mostrem seus trabalhos, especialmente em vídeo. Tanto as produções realizadas no Paraná nos últimos dois anos, como significativas obras, em curta e média metragem, realizados no Rio Grande do Sul e São Paulo. Berenice Mendes, realizadora de "A Classe Roceira", contundente documentário denunciando a questão dos bóias-frias, é objetiva e prática: - "Vamos sacudir o marasmo do cinema e vídeo no Paraná. Queremos fazer com que escutem nossas reivindicações e colocações, para ocuparmos o espaço que temos direito há muito de ocupar."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
22/05/1987

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