As estórias do Antonio`s o bar que fez lenda no Leblom
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de junho de 1992
A leitura de "Antonio`s - [Caleidoscópio] de um bar", tão deliciosa quanto um Royal Salute ou o mais envelhecido dos vinhos brancos alemães corresponde a uma viagem ao Brasil destes últimos 25 anos, através da étnea de jornalistas, gente de tv, teatro e cinema, políticos ou simplesmente biriteiros que, com ou sem dinheiro, mais (ou menos) famosos sempre frequentaram o bar que oficialmente nasceu na noite de 11 de fevereiro de 1967, com o nome da música que Frank Sinatra consagrara - Strangers in the Night, na avenida Bartolomeu Mitre, 297, loja C, como sucessor do Le Grill de Leblom e com a mesma razão social: Churrascobrás. Ao que tudo indica o nome Strangers [causou] estranheza, pois não durou nem três luas ou três porres. Por sugestão do Otto Lara Resende mudou-se o nome. A escolha do nome - Antonio`s - coube a José Luis Magalhães em Lins, em referência óbvia ao cozinheiro preferido do jornalista Armando Nogueira. Essa autoria foi colocada em dúvida, mas o bíografo do bar, [Mário] Almeida, após "longas pesquisas", garante que o banqueiro José Luis Magalhães Lins, além de ter ajudado Manolo e seus dois [sócios] a empinarem os papagaios para instalarem o bar, foi quem deu o nome definitivo. Apesar do próprio cozinheiro [Antonio] ter ficado pouco tempo na cozinha da Bartolomeu Mitre. De temperamento inquieto, foi para o Antonio, batizado inclusive com a fusão de Nino, do mesmo proprietário, e do próprio Antonio Luis Pereira, hoje cozinheiro em Nova York. Já Florentino Prieto Graña, da Galíeia como Manolo, em 1980, resolvia prosseguir em "vôo solo" e abria a essa com seu nome na General San. Martim, final do Leblom. Bem-sucedido no Rio, Florentino estendeu seu vôo a Brasília, onde é um dos principais anfitriões do poder.
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[Mário] de Almeida, 61 anos, paulista de Campinas, que em sua juventude fez teatro no Rio e, a partir de 1957, em Porto Alegre, antes de entrar no jornalismo, onde acabou como chefe de reportagem da "Última Hora" gaúcha - onde estava quando Brizola e Jango já tinham resolvido sair do [país] pelo Uruguai, foi extremamente feliz na elaboração de "[Caleidoscópio] de um bar". Assim, entremeando seus próprios [textos] - leves e agradáveis - nos quais reconstitui a trajetória de Antonio`s e de seus clientes, intercalou notícias publicadas na imprensa nacional, colunas de Zozimo Barroso do Amaral ("Jornal do Brasil"), Carlos Swan ("O Globo"), Hildegard Angel e Reynaldo Loy ("Última Hora"), o Fernando Lopes ("Tribuna da Imprensa["]) e, especialmente, José Carlos de Oliveira, que como cronista do "caderno B" do JB, foi sem dúvida o mais folclorico e famoso de todos os fregueses do Antonio`s - de cuja varanda escrevia sua coluna e ali permanecia, às vezes, até 40 horas [ininterruptas]. Não é sem razão que este livro é um pouco da própria vida de Carlinhos de Oliveira, capixaba de Vitória, que começou na imprensa em 1952 e criou um estilo único em suas crônicas - com uma certa amargura e nilismo, mas que, nos anos 60, emocionavam milhares de leitores e traziam grande empatia a jovens que com ele se identificavam. Pode-se dizer que pelo menos 30% do espaço de "[Caleidoscópio] de um Bar" é em homenagem a Carlinhos, através de algumas das melhores crônicas em que falava da casa de Manolo e também visto em textos de amigos que, convidados por Mário, enriqueceram o livro - falando não só do autor de "Os Olhos dourados do [Ódio]" e "O Pavão Misterioso", mas também de outras figuras marcantes, que ali diariamente "batiam o ponto", desde o chatissimo, pentelho, briguento e esporrente Reniquito (Chevallier, irmã de [Scarlet] Moon, hoje esposa do roqueiro Lulu Santos) ao arquiteto, cronista e sobretudo grande amigo Marcos Vasconcelos.
Assim, em textos de Elsio Lessa, Sebastião Nery, Fausto Wolff Leopold Camara, Tarso de Castro (outra figura marcante, gaúcho, jornalista, fundador do "Pasquim", falecido no ano passado vítima, como a maioria das "baixas do Antonio`s, de cirrose e outras complicações), Jaguar, Ziraldo, João Luiz Albuquerque, Sérgio Cabral, Henriette Amado (viúva de Gilson Amado, fundador da TV-Educativa/RJ), Agildo Ribeiro, Cristina Gurjão (que foi uma das 8 esposas de [Vinícius], mãe de Maria, hoje com 21 anos), Mauro Salles entre outros - enriquecem o livro, tornando sua leitura agradável.
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Mesmo para quem não tenha acompanhado, ao menos pela leitura das colunas do "JB", "O Globo", "Tribuna da Imprensa["] e tantas revistas que sempre pautaram o Antonio`s, como matéria obrigatória, em suas estórias, terá prazer na leitura deste livro. Isto porque as personagens vão de [Vinícius] de Moraes, Antonio Carlos Jobim (hoje dessidente, prefere a churrascaria Plataforma), Chico Buarque, Otto Lara Rezende, Carlinhos de Oliveira, Sérgio Porto, Regina Rotemburgo, Di Cavalcanti, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Irineu Garcia - muitos destes, já "tendo tomado a última cadeira" como diz [Mário] de Almeida.
Se "Na Mesa do Vilariño", Fernando Lobo não conseguiu evitar uma certa melancolia, ao calçar sua máquina do tempo numa época que já foi - e da qual é um dos raros sobreviventes - e pelo fato do próprio Vilariño ter perdido suas [características], [Mário] Almeida, sem tristezas, fala com imensa ternura da gente inteligente, famosa e, sobretudo notícia que conviveu - e muitos continuam a conviver - no restaurante de Manoel Ribeiro Romar, 42 anos, espanhol de Santiago de Campostela, que chegando ao Rio em 1º de março de 1960, começou como auxiliar no restaurante do MAM-RJ, e se tornou um nome lendário da vida [boêmia] carioca. Como ele, dezenas de outros espanhóis - entre os quais o famoso Chico Ricarey (que possue hoje mais de 20 casas), tornaram-se personagens de uma fase do Rio de Janeiro - que, agora, começa a ganhar seus livros. No mínimo, o seu concorrente Chico deve estar querendo encontrar alguém que lhe dedique semelhante homenagem a partir do Chico`s Bar/Castelo da Lagoa. O que já será outra - e boa história...
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