Face a face
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de dezembro de 1977
Ingmar Bergman, um dos maiores cineastas da história mundial do cinema, poderá ser mais uma vez apreciado pelo público Curitiba. Seu filme "Face a Face" será exibido no cine Astor a partir da próxima quinta-feira. Depois de ter realizado quase quarenta filmes, Bergman reafirma seu indiscutível talento, num filme que mostra não apenas o trabalho de um diretor, mas também o de um criador de personagem, de vidas humanas, o que sempre o caracterizou.
"Face a Face" retrata a vida de uma mulher bem casada, estabelecida social e profissionalmente que, a medida em que é apresentada com mais profundidade, passa a demonstrar o "outro lado", a falsa realidade que sua posição mostra. A personagem central. Jenny, toma conhecimento de situação que ela, como psiquiatra admitia apenas em seus pacientes. Diante desta descoberta, ela passa a conviver num clima de incertezas, de vontade de deixar a vida, numa constante expectativa da própria morte.
Aliás, o grande tema de Bergman sempre foi a pessoa humana, sua angustia, sua necessidade de liberdade. E em suas análises do comportamento e da estrutura psíquica das pessoas, o cineasta mostra-se como um verdadeiro criador de cenas, que por só, traduzem a condição em que o homem encontra-se diante da vida. Isso não quer dizer que em Ingmar Bergman não haja também uma preocupação social, ou política, já que é praticamente impossível uma análise profunda do homem sem que fatalmente se passe a estudá-lo também como um ser que se relaciona, com capacidade de alterar sua estrutura socio-política e principalmente com direito de negar o que fere sua liberdade e até mesmo de negar a si próprio. Essa posição de lucidez da pessoa diante de sua situação, de suas limitações, é constante nos personagens de Bergman, tanto assim, que convivem com a presença do significado da vida, e a certeza da morte.
Esta sua preocupação com o incosciente, levou-o aproximar-se dos problemas do momento, pois interrogar sobre o "mal" - esta paixão de destruição e morte que conduz a espécie humana - foi de encontro a questão políticas como o nazismo e o Vietnã.
"Face a Face" foi rodado em Estocolmo, no final de 1975 e conta com Liv Ulmann e Erland Josephson. Este filme, segundo o cineasta, veio provar a distância entre o que se pretende dizer e o que realmente as pessoas conseguem captar desta mensagem. "Quando a gente escreve, imagina que está transmitindo certos sentimentos. Mas quando se está trabalhando, filmando com os atores e a equipe, e já se discutiu anteriormente, o que se tentaria fazer, é que se sente esta distância. Ainda bem que o que eles não entendem, perguntam. E confio neles, pois tenho o filme aqui, na ponta do nariz, talvez, talvez perto demais. Além disso, os atores são sempre seres criativos."
FOTO LEGENDA- Ingmar Bergman
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