Gaúchos denunciam os crimes contra índios
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de outubro de 1986
Há duas semanas, numa festa com lances folclóricos - que incluiu até um coral interpretando, "em primeira audição mundial", diversas músicas vertidas para a língua indígena ("Luar do Sertão", "Canção do Exílio", uma "Aleluia" do falecido Idílio Donatti), o professor Edwino Tempski autografou o seu livro "Caingangues - Gente do Mato". Nesta obra, realizada após 8 anos de pesquisas - na qual teve apoio da Secretaria do Planejamento, através do Conselho Estadual de Ciências e Tecnologia - Tempski procurou reunir informações sobre a língua e os costumes dos índios caingangues do Brasil Meridional.
Paralelamente, três jornalistas gaúchos, Carlos Wagner, da "Zero Hora", Humberto Andreata e André Pereira, do "Diário do Sul", acabam de publicar uma obra que dá outro enfoque sobre a nação caingangue: "A Guerra dos Bugres" (Tchê, 120 páginas, Cz$ 45,00).
Em linguagem jornalística e contundente, os jornalistas gaúchos narram a luta dos caingangues dentro de suas reservas. A miséria, a doença, a falta de educação. A disputa dos caciques pelo poder, o dinheiro vindo de arrendamento ilegal das terras, da venda (também ilegal) de madeira. Cobre um período relativamente curto - 1978 a 1985 - mas movimentado, com mais de 3.000 colonos nas terras dos índios, queima de escolas, expulsão de religiosos, mortes e a FUNAI, como sempre, fazendo vista grossa, ou mandando a Polícia Estadual e Federal "botar ordem armada".
Material originalmente publicado na imprensa gaúcha, os autores não pretendem contar ou fazer reparos a uma história que recém começa a ser fixada, mas, apenas dar sua contribuição ao trabalho dos que se dedicam à causa indígena.
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