A homenagem ao amigo Tom
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de agosto de 1987
Ao longo da obra de Drummond - que aliás vem sendo reeditada pela Record, desde o encerramento de seu contrato com a José Olympio - há inúmeros momentos de encontro musical. Tanto nas crônicas como nas poesias, repetidas vezes Drummond externou sua admiração a compositores que, a sua maneira, também se encontravam na poética do mundo.
Antônio Carlos Jobim foi, entre outros, um dos grandes amigos de Drummond. Há 14 anos, exatamente em 12 de maio de 1973, Drummond lhe dedicou um dos mais belos poemas - ("Pré-Inverno") pouco conhecido, e que merece ser lembrado em alguns trechos:
Ah, declaro o papo findo,
antes que inverno pegue fogo
Muito melhor ouvir o Tom Jobim
cantar, pianoviolão,
no Jardim das Rosas, de sonho e medo,
no clarão das águas, no deserto negro,
enquanto, lere, lará,
o Matita Perê negaceia:
"Eu quero ver, eu quero ver
você me pegar".
Quem pega Tom Jobim, no Rancho das Nuvens
de Nuvens Douradas? Leva Anna Luisa
no Trem para Cordisburgo. Conta-lhe
a Crônica da Casa Assassinada.
Fala de Milagres e Palhaços,
e se é Tempo de Mar, com Pedrinho de Moraes
Chora o Coração de Vinícius de Moraes.
Fluem, fluem
as Águas de Março e vai fluindo
em poesia rosiana
o límpido som
de Tom,
na palma da mão, cor do Brasil.
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