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Itala troca Brecht por Oswald Andrade

Entre o brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954) e o alemão Bertolt Brecht (1898-1956), a gaúcha Itala Nandi, 38 anos, ficou com o autor de << O Rei da Vela >>. Explicando: no final do ano passado, a bela e consciente atriz havia se definido pela peça << Santa Joana dos Matadouros >>, que Brech escreveu há 50 anos e nunca foi encenada no Brasil. Convidou o ex-marido e companheiro de grupo Oficina, Fernando Peixoto, para revistar a tradução e fazer a direção e acertou a estréia nacional para agosto, no Teatro Guaíra. Neste meio tempo foi ao Rio Grande do Sul, fazer um documentário sobre o triângulo vitivinícola (Bento Gonçalvez, Garibaldi e Caxias do Sul, sua terra natal) e de volta ao Rio, quando começava a montar o material rodado - e preparar-se para os ensaios da peça, veio o convite irrecusável: interpretar Oswaldo de Andrade em << O Homem do Pau Brasil >>, que Joaquim Pedro de Andrade começou a rodar, em São Paulo, há duas semanas. xxx A amiga de Pedro de Andrade, 48 anos, há muito tempo - e com quem já trabalhou em << Macunaína >> (71) e, mais recentemente, em << A Guerra Conjugal >> (75), Itala não teve dúvidas: adiou os projetos teatrais e até agosto estará mergulhada na interpretação do personagem. Em carta a um amigo curitibano, conta: << Suspendi por 3 meses a montagem do meu filme e sou forçada a fazer o mesmo com Brecht. Cortei minhas linhas medeichas e já filmo em ritmo muito pesado, mas estou satisfeita porque o trabalho está sendo muito rico e estimulante. Joaquim nunca esteve melhor, os cenários do Hélio Aichbauer são fantásticos, o elenco delicioso e como atriz faço o trabalho mais completo e desafiante >>. xxx Quem deve aparecer nesta semana em Curitiba para se propor mais uma estréia nacional ao Guaíra é o ator Jardel Filho, 52 anos, desde 1947 na vida artística (estreou com << Os Comediantes >>, em << Desejo >>, de O`Neill, sob direção de Ziembiski). Jadel vem oferecer ao governador Ney Braga uma peça de Dias Gomes (ainda não escrita) para ser montada no primeiro trimestre de 1981, com a promessa de utilizar no elenco 80% de intérpretes locais. Jardel acaba de gravar o texto do documentário << O Mundo Mágico de Poty Lazarotto >>, cuja primeira cópia o diretor Arakem Távora traz também nos próximos dias, para exibir a um grupo de amigos do artista plástico. Poty e Jardel são amigos há muitos anos, inclusive o artista paranaense fez uma escultura-fonte para o triples de cobertura do ator, vendido agora ao cantor Ney Mato Grosso. E Jardel tem mais um laço afetivo com Curitiba: foi o seu pai, Jardel Jercolis, à frente da Companhia Tro-Lo-Ló de revistas que inaugurou, em abril de 1929, o Cineteatro Avenida, então a mais luxuosa casa de espetáculos do Sul. Hoje, aquele espaço é melancólico. Outro referencial com relação a Jardel: em agosto de 1966, quando veio a Curitiba para a estréia nacional de << O Sr. Puntilla e seu Criado Matti >>, de Brecht, no Guaíra, numa de suas << esticadas >>, Jardel foi a então fulgurante boate Marrocos, na Praça Zacarias. Alguns scoth a mais e uma conta em que o garçom somou os números de forma errada, levaram Jardel a mostrar suas habilidades de pugilista e a briga foi feia. Tão grande que, no dia seguinte, mesmo com toda a proteção que aboate tinha junto aos meios policiais, a decisão foi do então governador Paulo Pimentel: a casa teve suas portas fechadas. Melancólico final de uma boate que movimentou por quase 10 anos a vida noturna da cidade e que, pouco menos de um ano antes, já havia sofrido outro abalo: seu proprietário, Paulo Wendt, então com 54 anos, havia sido assassinado no interior, por um freguês embriagado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
17/06/1980

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