Ivan Lins, uma volta marcante
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de maio de 1989
"Meu amor / Eu já tenho 30 anos de projetos, nada firme, nada claro, nada certo
(...) Eu já tenho 30 anos de paciência / Esperando a minha vez, a minha hora".
Ivan já passou há muito dos 30 anos - e como todos de sua geração caminha para os 50. Mas não poderia estar em melhor fase. Simultaneamente está com dois discos novos - um especialmente para o mercado americano, lançado só nos EUA, e outro ("Amar Assim", Polygram) começando a merecer atenção devida no Brasil, de cuja área fonográfica estava ausente há dois anos. Hoje um dos compositores brasileiros mais requisitados nos EUA, Ivan teve uma seleção de suas composições gravadas por Michael Murphy, uma das mais belas vozes jazzísticas americanas - infelizmente desconhecido no Brasil (aqui não saiu nenhum de seus 35 elepês) e que na semana passada encerrou sua temporada no "150" do Maksoud Plaza, praticamente ignorado pela imprensa.
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Ivan Lins está soberbo com seu novo disco. Coerente politicamente, traz ao menos uma faixa para ficar, numa mesma linha de irritação / decepção que seu colega de geração e de sonhos, Gonzaguinha, fez em "É". Em "Cabo Eleitoral", o letrista Vitor Martins colocou todo o desalento de quem pode acreditar na canalha de políticos - embora, em outro momento, haja um pouco de esperança com "16 de Novembro", dedicado a Erundina, embora, nestas alturas, a prefeita petista já comece a decepcionar.
A parceria Ivan-Vitor Martins ajusta-se cada vez mais, tanto no lado romântico como em criações no qual há uma preocupação de dizer coisas sérias - o que marca o trabalho dos dois desde o início. A rigor, todas as novas músicas deste elepê de retorno são ótimas, com imagens poéticas - mesmo quando aborde realidades duras como a reflexiva "Trinta Anos", uma das melhores deste disco, repleto de grandes momentos ("Fogueiras", "De Nosso Amor tão Sincero", "Andorinhas", "Amar Assim" e "Espelho Piano").
Um disco maduro de um grande compositor, cantor vigoroso, que encontrou um letrista perfeito (Vitor Martins) e, mais uma vez, soube se cercar de bons instrumentistas (Alfredo Dias Gomes, bateria; Arthur Maia, baixo; João Parahyba, percussão; Heitor TP, violão e guitarra e Renato Franco, sax tenor e alto) para oferecer um dos melhores discos do anos, tenho certeza.
LEGENDA FOTO - Ivan: amor & política num belo disco.
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