Jaime busca no Japão US$ 160 milhões para o meio ambiente
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de abril de 1989
Meio ambiente - Este será o mote das principais conversações que o prefeito Jaime Lerner manterá com autoridades japonesas e, no retorno, via Nova York, com alguns destacados integrantes do primeiro escalão do governo da Big Apple - talvez o próprio prefeito Edward Koch, embora ele esteja bastante ocupado: além da administração é candidato, pela quinta vez, à reeleição - numa disputa difícil já que, em novembro, estará enfrentando quatro outros (fortes) candidatos.
Como sempre acreditou na objetividade da linguagem visual, como cinéfilo que é, Lerner embarcou ontem levando em sua bagagem cópias em inglês de vídeos sobre Curitiba e os projetos que desenvolveu com sua equipe para fazê-la a Capital Ecológica do Brasil. O jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior foi quem dirigiu, na parte técnica, os vídeos - criados pelas equipes do IPPUC e Secretaria do Meio Ambiente.
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Se fosse apenas pelo aspecto festivo do centenário de Himeji, cidade-irmã de Curitiba - e para cuja efeméride estarão reunidos prefeitos de outras cidades-irmãs (Adelaide, na Austrália; Twaian, na China; Charlieroi, na Bélgica e Phoenix, nos Estados Unidos) a partir da próxima quinta-feira, 5, Jaime não deixaria Curitiba, "neste momento em que há tanto o que fazer e tantas coisas acontecendo". Entretanto sua visão político-administrativa vai bem mais longe e sentiu há muito que programas de meio ambiente e preservação ecológica são os únicos capazes de sensibilizar os países que possuem grandes recursos para aplicar no Terceiro Mundo. Analisando a situação internacional com relação à preservação (para muitos, intervenção) na Amazônia, Lerner tem um pensamento objetivo:
"É um momento em que as discussões estão nervosas e, por isto mesmo, perigosas. Levo propostas ao Japão - e que também discutirei nos Estados Unidos - para oferecer Curitiba como um espaço a que se façam experiências de preservação ecológica, como uma amostra do que pensa em aplicar na Amazônia - dentro do programa de total de US$ 8 bilhões".
Lerner é modesto no que vai expor às autoridades japonesas: com apenas 2% daquilo que os japoneses se dispuseram já a colocar em programas preservacionistas do Brasil em relação à dívida externa - ou seja, US$ 160 milhões - poderá desenvolver o maior programa ecológico já pensado por um município. A cabeça-de-ponte do projeto é o saneamento do Rio Iguaçu, em suas nascentes e dos rios afluentes (Atuba, Belém e outros), num prosseguimento a um trabalho, aliás, iniciado em sua administração anterior. Obviamente que se houver possibilidades de os japoneses aplicarem em projetos de Curitiba este mínimo percentual do que se dispõe a trazer ao Brasil, inúmeras idéias correlatas - "mas sempre dentro de programas ecológicos", frisa Lerner - poderão ser desenvolvidos a curto e médio prazo.
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Para os contatos na área oficial, Jaime terá dois grandes aliados - e nisto, mais uma vez, a sua boa estrela brilhou: tanto o secretário geral da Embaixada do Brasil, Pedro Borio, como a primeira secretária, Lígia Scherer, são de Curitiba, seus grandes amigos e que há semanas estão organizando a sua agenda oficial. Lígia é irmã de Pedro Scherer, técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e dirigente de várias instituições ligadas à vida animal, inclusive uma sociedade de observadores de pássaros.
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Enquanto Jaime Lerner levará projetos na área ecológica, sua esposa, e secretária municipal da Criança, Fany Lerner, também estará mantendo reuniões, mostrando igualmente vídeos sobre projetos na área de assistência social. Com a experiência de Newton Grein, por mais de uma década diretor do Instituto de Assistência do Menor - e hoje secretário adjunto da pasta da Criança - Fany, com sua sensibilidade e competência de quem há anos se preocupa com os problemas sociais, elaborou projetos práticos, capazes de sensibilizar instituições internacionais. Basicamente voltados à área de creches, as pretensões da Secretaria da Criança se concentram em recursos prioritários para obras imediatas - não impressionando em números, mas, sim em eficiência - dentro de uma política de fazer com que o maior problema social da cidade - a infância abandonada - possa ser realmente enfrentada com soluções práticas.
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Na bagagem levada ao Japão, quase 10 quilos são de presentes baratos mas significativos que, dentro do cerimonial que marca visitas oficiais, são feitos entre visitantes e anfitriões. Com a experiência de quem já conhece o Japão - o casal Lerner ali esteve há três anos, quando ele fez várias palestras sobre planejamento - estarão levando pedras típicas brasileiras e os característicos ovos de Páscoa - que são marca registrada da colonização eslava de Curitiba. Fany, aliás, comentava no sábado, com alguns amigos:
Só pude encontrar 23 ovos, pois devido à Páscoa a produção artesanal praticamente se esgotou em Curitiba. Acho, entretanto, que serão lembranças bem curitibanas para levar aos amigos japoneses.
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