Joyce, uma voz que revê os amigos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de maio de 1980
Show << Feminina >>, com Joyce e Quarteto.
De Hoje a domingo, 21 horas, no Teatro do Paiol.
Ingressos a Cr$ 200,00e Cr$ 100,00.
Sem pretender carregar bandeiras feministas ou queimar soutiens em praça pública ao estilo Betty Friedan, Joyce é uma mulher de admirável personalidade, que tem assumido posições, não teme quebrar a cara em termos de paixão & encontros quando necessário e realizar uma obra extremamente pessoal. Com 12 anos de carreira, menos de meia-dúzia de elepê (um deles, gravado nos EUA, inédito no Brasil), num terceiro casamento - com o baterista Tuti Moreno; duas filhas, Clarinha e Ana, não se preocupa em fórmulas para o sucesso fácil. Ao contrário, tem construído, pouco a pouco, uma obra que começa agora a florescer. No ano passado, Ellis Regina - sabidamente uma superstar que tem faro (e naturais exigências) para incluir músicas em seus elepês, não só escolheu uma composição de Joyce, com letra de Ana Terra (ex-mulher do flautista Danilo Caymmi) para o seu elepê de estréia na WEA, como a fez a música título: << Essa Mulher >>. Profundamente social em termos de colocação da mulher na sociedade, a música de Joyce/Ana Terra se destacou - fazendo com que se absorvesse com mais atenção a sua nova safra de músicas. Agora, numa feliz coincidência de sua presença no Paiol (de hoje a domingo, 21 horas), a Odeon lança o lp << Feminina >>, produção das mais bem acabadas, com a participação de excelentes músicos, cujos trabalhos se identificam com Joyce, além de um repertório, que não poderia ser mais sólido, com letras das mais bem construídas e harmonias perfeitas.
<< Clareana >>, sensível homenagem às suas duas filhas - que inclusive participaram da gravação, foi a melhor música aparecida até agora no Festival MPB-80 - e nós, que já a conheciamos, de uma audição particular, há dois anos, por enquanto apostamos (ou ao menos torcemos) para que seja a verdadeira da finalíssima. Mas << Mistérios >> (parceria com Maurício Maestro), << Coração de Criança >> (parceria com Fernando Leporace) ou a notável << Revendo Amigos >>, são outros momentos excelentes do talento de Joyce, que apresenta ainda no disco e no show que agora os curitibanos podem assistir - músicas como << Bananas >>, << Mistérios >>, << Da Cor Brasileira >> (parceria com Ana Terra), << Aldeia de Ogum >> e << Compor >>.
Entre a Joyce de de 1966, jovem e ingênua - mas já talentosa - a cantora amadurecida, forte e que busca, conscientemente o seu lugar ao sol, passa mais do que o simples tempo cronológico.
Aconteceram modificações em seu mundo - e no mundo, fazendo-a mais importante hoje, quando, finalmente, começa a encontrar o seu merecido espaço em nosso competitivo mundo musical - com tantas cantoras, mas poucas intérpretes-compositoras que tenham o seu vigor e entusiasmo.
Enviar novo comentário