Livro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de fevereiro de 1974
O crítico Antônio Carlos Villaça registra o nascimento do livro "Os Anos 40" (José Olympio, 1972), "como resultado de angústia existencial". Pois, explica Villaça, Rachel Jardim "é de rigorosa autenticidade ao tecer as suas lembranças (de Juiz de Fora ao Rio) o que era seu mundo e a sua intimidade, as dolorosas experiências a privacidade d'une jeune filie en fleur, sonhos e sofrimentos, medos e manias, o cotidiano, a aventura, tudo tornou-se nosso. Porque a arte é isto, esta estranha intus suspção total. Rachel nos transmite, recriando-a, uma experiência trágica da vida. Pois há no seu livro, aparentemente leve (até certo ponto) uma tragicidade. É um livro terrível. Porque vai ao fundo de certa experiência extremamente sofrida do vazio, do nada (o nada dos seres). Eis a primeira sensação que este livro - escrito por uma mulher culta com desabafo integral - nos comunica de forma direta, imediata, como um soco, um desafio seco: o nada do ser. Rachel foi ao fundo do abismo. Este livro tão gostoso de ler-se, tão humano (fundamentalmente), é uma viagem ao abismo dos homens. E Rachel voltou das suas andanças abismais, fiel a si mesma, lépida, instruída, sábia a respeito da noite escura e seus segredos. Coragem, a dela, frágil e poderosa mulher, de ir ao limite do humano, descer e subir, viver sobretudo. Pois se há uma clara mensagem neste livro - trágico e belo - é a do amor a vida. A vida é vivel. A vitória do ser sobre o nada é aqui nítida. Através exatamente deste volume de memórias (viagem ao fundo da noite). Rachel se reconcilia plena e profundamente com a vida. A vida como totalidade. Após estas belas palavras de Villaça nada mais pode ser acrescentado. A não ser o convite a leitura do livro de Rachel, 113 páginas prefácio de Franklin de Oliveira e desenhos de João Guimarães Vieira, José Olympio, 73.
Enviar novo comentário